O avô no campo de concentração

7 de julho de 2020
O avô no campo de concentração 1

Harvard e a meritocracia 

Um estudo publicado no início deste mês pelo Departamento Nacional de Pesquisa Econômica (EUA) descobriu que 43% dos estudantes brancos admitidos na Universidade de Harvard, uma das mais prestigiadas do mudo, são atletas recrutados, filhos de ex-alunos, filhos de funcionários ou parentes de pessoas que doaram dinheiro para a instituição. Esse número cai drasticamente quando se toma os estudantes negros, latino-americanos e asiáticos, com menos de 16% de cada um vindo dessas categorias. Os números são interessantes para relativizar um dos principais valores da democracia norte-americana: a meritocracia, isto é, a crença de que basta trabalhar duro para ser bem sucedido. 

Ginzburg na Serrote

Uma das melhores revistas literárias do Brasil, a Serrote, acabou de lançar uma edição especial, gratuita e digital, que reflete sobre o momento de exceção que vivemos. A revista apresenta seis ensaios inéditos sobre impactos políticos e sociais da pandemia, três ensaios visuais e a tradução de “O vínculo da vergonha”, clássico do historiador italianos Carlo Ginzburg que fala diretamente ao Brasil de hoje. Para Ginzburg, quando pensamos em uma nação, não é a apenas o amor que gera a sensação de sentimento de pertencimento, mas a vergonha também.

O avô no campo de concentração 

Em tempos de negacionismo histórico, a minha amiga Marina Lemle, jornalista, descobriu a ficha de entrada do avô dela, Henrique Lemle, rabino fundador da ARI (Associação Religiosa Israelita), no campo de concentração de Buchenwald, para onde foi enviado depois da Noite dos Cristais, em 11 de novembro de 1938. Felizmente, ele se salvou com a ajuda do World Union for Progressive Judaism, imigrando para Londres e depois para o Rio de Janeiro, onde faleceu em 1978. O documento estava no Arolsen Archives e quem o encontrou foi Charles Steiman, amigo de Marina e pesquisador do “Heritage and History”, na Alemanha. “A história prevalece”, ela disse. Está coberta de razão.

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“Notas de Rodapé” é a coluna de Bruno Leal, editor do Café História. Aqui você encontra notícias curtas, informações sobre eventos, dicas de livros, reflexões sobre a presença da história no tempo presente, sugestões de filmes, pensamentos sobre o ofício do historiador e muitas outras coisas legais que esse divulgador científico for encontrando pelo meio do caminho. Tem alguma pauta? Escreva para a coluna.

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Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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