Site sobre ditaduras na América Latina permite baixar materiais didáticos para professores

A professora de História Ellen Bezerra elaborou um site dedicado às memórias das ditaduras militares no Brasil e na Argentina.
24 de agosto de 2022
Ditadura-Militar-Brasilia
Policiais sobre o Congresso Nacional em outubro de 1966. Arquivo Nacional, Correio da Manhã, PH FOT 01996.005.

A professora de História Ellen Bezerra construiu um site voltado para o ensino sobre as ditaduras militares do Brasil e da Argentina. O blog “Memórias das ditaduras” é produto de seu trabalho final para o ProfHistória: “Ensino de História e passados sensíveis: História e memória da ditadura militar nos livros didáticos do Brasil e da Argentina”, defendido na Universidade Regional do Cariri (URCA), em 2018.

Em sua pesquisa, Bezerra constatou que o período da redemocratização nos dois países foi marcado pela elaboração de legislações educacionais em âmbito nacional. A partir desse período, como aponta a autora, os livros didáticos apresentam narrativas que abordam o passado de repressão e a resistência. Esses materiais são marcados pela valorização da democracia e da memória coletiva.  

O blog “Memórias das ditaduras”

A principal inspiração de Bezerra para a elaboração de um blog sobre as ditaduras na América Latina foi o avanço do discurso conservador que associava os golpes militares à Revolução. A ideia da utilização de uma mídia digital foi grande aliada da professora de História, que se valeu da familiarização dos jovens com essa linguagem.

O material produzido por Bezerra é voltado para professores e estudantes do Ensino Médio. Uma das marcas de sua aproximação com esse público é a apresentação de diferentes mídias, como textos escritos, fotografias, vídeos, sugestões de músicas e filmes, bem como podcasts.

Os textos escritos pela autora para o blog não versam apenas sobre o desencadear dos fatos, mas incluem reflexões sobre o passado sensível e a importância da memória. A professora destaca que nossas lembranças e esquecimentos são produções do presente e que, nesse sentido, os grupos que assumem o poder elaboram distintas narrativas sobre o passado, a depender de seus interesses.

Como forma de inspirar o trabalho com a memória sobre a resistência às ditaduras, a autora apresenta, na seção “Lugares de Memória”, o Memorial da Resistência de São Paulo e a Escola Militar da Armada Argentina. Ambos os espaços foram locais de prisões clandestinas e demais violações de direitos, e atualmente recebem atividades culturais voltadas ao público.

A professora apresenta também memórias da resistência coletiva, como o movimento “Mães e avós da praça de Maio”, na Argentina. O coletivo é uma associação liderada por familiares de desaparecidos no período ditatorial. O grupo se reúne em espaços públicos com o objetivo de denunciar os abusos de poder e as violações de direitos humanos, como destaca Bezerra. Já as memórias individuais, com breves apresentações de pessoas que estiveram diretamente envolvidas na luta contra as ditaduras militares, têm espaço dedicado na aba “Memórias pessoais”.

“Você Historiador”

A seção “Você Historiador” permite maior interação do público com o site. Na aba “Fontes históricas” é possível realizar a leitura da carta de um prisioneiro político destinada ao seu irmão. O documento possibilita a discussão em sala de aula sobre os limites do que era possível comunicar aos familiares sobre a vida na penitenciária, já que o autor da carta não aborda diretamente o seu cotidiano na prisão.

Nessa mesma seção há um conjunto de atividades sobre as ditaduras argentina e brasileira que podem ser baixadas por professores e utilizadas em sala. Além disso, Bezerra selecionou um conjunto de sugestões de músicas e filmes que podem ser consultados por professores que trabalham a temática em suas aulas.

A linguagem direta e objetiva, assim como as possibilidades de interação, inspiram o trabalho docente na busca de atividades inovadoras. A abordagem escolhida por Bezerra, que contempla o debate sobre democracia, justiça e políticas de reparação, também são combustível para enriquecer a reflexão e o pensamento crítico em sala de aula.  

Thaís Pio Marques

Faz parte da equipe do Café História, onde realiza estágio voluntário. Graduada em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Durante a graduação fez parte do Grupo PET Conexões de Saberes – Licenciaturas, voltado para a elaboração e desenvolvimento de Projetos pedagógicos interdisciplinares. Atualmente, organiza o perfil de Instagram “Poesia e oralidade”, onde compartilha textos breves sobre competições de poesia (slams) e seus participantes. O trabalho na rede social é
articulado aos estudos sobre História Oral e História Pública.

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