“O Senhor dos Anéis – Os Anéis de Poder”: uma declaração de amizade entre povos 1
Imagem: Divulgação/Reprodução Prime Video

“O Senhor dos Anéis – Os Anéis de Poder”: uma declaração de amizade entre povos

Taís Zago examina primeiros capítulos da saga da famosa série de Tolkien. “A obra pivotal de Tolkien é uma ode à união entre os diferentes por um objetivo social comum, é uma declaração de amizade entre povos”.
18 de setembro de 2022
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Os fãs de J.R.R. Tolkien estão em polvorosa. Ansiosamente aguardada desde que sua produção foi anunciada em 2017, quando a gigante Amazon comprou os direitos da obra do autor, a série, baseada em apêndices da trilogia “O Senhor dos Anéis” e em outros textos de Tolkien, finalmente estreou no streaming Prime no dia primeiro de setembro.

De cara fomos agraciados com um combo dos dois primeiros episódios, cada um com mais de 60 minutos de duração. Os seis episódios restantes serão lançados, um de cada vez, às sextas-feiras pelo canal. O custo total do investido na primeira temporada, dizem, superou a marca dos 100 milhões de dólares. E esse mesmo montante de dinheiro será investido na produção de cada uma das próximas 4 temporadas já acordadas com o canal.

Mas o caminho até aqui foi árduo. Antes de conceder os direitos à Amazon, os herdeiros de Tolkien tiveram que enfrentar uma batalha judicial com a Warner Bros., empresa que até então detinha os direitos dos filmes do diretor Peter Jackson – as trilogias “O Senhor dos Anéis” e “The Hobbit” – feitos entre os anos 2001 e 2014. No final deu certo e os herdeiros saíram do acordo com a Amazon com a bolsa cheia de ouro. Jeff Bezos, claro, não é bobo, e planeja lucrar perto de 1 bilhão de dólares com a saga.

Os números que coloquei aqui são apenas para nos dar uma dimensão racional das expectativas que foram geradas sobre o eventual sucesso dessa aventura. Não é pouca coisa, principalmente em se tratando da saga que é considerada a mais fundamental e importante do gênero de fantasia na literatura mundial.

O superlativo faz parte de tudo que envolve o universo da Terra-Média. De um livrinho com pouco mais de 300 páginas chamado “The Hobbit”, juntamente a algumas passagens retiradas do terceiro livro da trilogia do “Senhor dos Anéis”, Peter Jackson extraiu 3 filmes com um total de 532 minutos de duração (na edição estendida). O que ainda não bate os 686 minutos da edição deluxe da trilogia original feita por Jackson. E a ideia agora parece ser bater todos os recordes até então e nos puxar de novo para as batalhas intrincadas entre os povos que habitam as imensas extensões criadas na imaginação de Tolkien.

Milhares de anos no passado

A princípio voltamos agora milhares de anos antes dos acontecimentos de “The Hobbit” e “LOTR”, na chamada “Second Age” (Segunda Era) do mundo fantástico chamado Terra-Média. Após a primeira derrota de Morgoth e seus Orcs nas batalhas contra os Elfos, Sauron, um de seus comandantes, supostamente assume o lugar de Morgoth e promove um reagrupamento dos Orcs, mas seu desaparecimento parece uma vitória para seus oponentes. O final dos conflitos é comemorado por todos, porém não pela jovem elfa Galadriel (Morfydd Clark). Ela ainda percorre toda a Terra-Média por séculos em busca do comandante do levante das trevas. Enquanto Galadriel parte em suas buscas, contrariando o rei elfo Gil-galad (Benjamin Walker) e os conselhos do amigo Elrond (Robert Aramayo), o povo bucólico dos Harfoot, uma tribo dos Hobbits, vive frugalmente de forma nômade nas florestas até o dia em que a pequena Nori (Markella Vanenagh) descobre um estranho (Daniel Weyman) em uma clareira aberta após a queda de um meteoro.

Nori, de bom coração, cuida do intruso, o qual parece possuir poderes mágicos. Em um outro território, povoado por humanos, surge a inusitada amizade (com potencial envolvimento romântico) entre o soldado elfo Arondir (Ismael Cruz Cordova) e a curandeira Bronwyn (Nazanin Boniadi). Por fim, em mais uma trama paralela, Elrond parte para Khazad-Dûm em busca da ajuda de seu amigo, o príncipe dos anões Durin IV (Peter Mullan). Elrond procura a expertise do povo anão para ajudar nos planos de forjar os anéis. Sim, aqueles anéis que, como sabemos, e está descrito no título, são os detentores de um enorme poder e a causa de muitos conflitos posteriores na saga de Tolkien.

Todas essas narrativas paralelas, em dado momento, estarão interligadas. Os criadores optaram por manter a dinâmica que permeou a trilogia “O Senhor dos Anéis”, onde alianças e amizades surgem nos lugares mais inusitados e inimigos viram aliados ao confrontar o mal maior que ameaça a Terra-Media. Alguns personagens nos são velhos conhecidos, como Galadriel, que foi interpretada por Kate Blanchet na trilogia, ou Elrond, papel assumido por Hugo Weaving na obra de Jackson. Outros seguem caminhos familiares como a amizade de Nori e o Estranho, mimetizando Frodo e Gandalf, o amor entre Elfos e humanos, que nos lembram de Aragorn e Arwen, ou a retomada da amizade entre elfos e anões, aqui representada por Elrond e Durin.  

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Imagem: Divulgação/Reprodução Prime Video

A longa lista de roteiristas, criadores e diretores envolvidos na produção tratou o material com muito respeito procurando não decepcionar os fãs mais fervorosos. Os efeitos são de primeira linha, assim como as caracterizações dos personagens, as paisagens e os figurinos. Da mesma forma que “LOTR”, a primeira temporada de “Os Anéis de Poder” foi filmada na Nova Zelândia, com as incríveis paisagens que já nos parecem bem familiares. E mesmo assim fica claro que a ideia principal não é simplesmente continuar o trabalho das outras trilogias. O elenco é mais diverso, há a inclusão de atores negros e o papel principal é assumido por uma mulher. Quem conhece a obra de Tolkien sabe que ele não se preocupava muito em desenvolver personagens femininos, e que fora o folclore e a cultura inglesa, não parecia incluir outros grupos étnicos em sua escrita. Essa inclusão de diversidade deixou alguns fãs bastante consternados, ao ponto de espalharem pelos quatro cantos da internet péssimas avaliações dos episódios levados ao ar até agora. Uma injustiça, tanto com a série quanto com o autor Tolkien. Infelizmente, existe uma porção de leitores que enxergam nas suas obras uma forma de pregação da hegemonia anglo-saxã. Coisa que o próprio autor rebateu ainda em vida. E, para os leitores um pouco mais atentos, é fácil perceber que a mitologia tolkieniana é formada por diversos grupos com diferentes línguas, é sim, uma história muito inclusiva. Apesar de machista. E nisso não tenho como discordar, porém eram outros os tempos de J. R. R. que nasceu em 1892, e isso precisa ser levado em consideração na análise.

A obra pivotal de Tolkien é uma ode à união entre os diferentes por um objetivo social comum, é uma declaração de amizade entre povos. Não á toa, a trilogia “O Senhor Dos Anéis” foi concebida como uma forma de homenagem a seus companheiros que morreram na segunda guerra mundial lutando contra a ascensão do nazismo, e não, como alguns acreditam, como uma alegoria da guerra em si. Para mim, “Os Anéis de Poder” começou sem decepcionar em nenhum aspecto, e pode vir a trilhar um belo caminho pela frente. Imagino que, se vivo fosse, Tolkien não discordaria de mim.

Tais Zago

Tem 46 anos. É gaúcha que morou quase a metade da vida na Alemanha mas retornou a Porto Alegre. Se formou em Design e fez metade do curso de Artes Plásticas na UFRGS, trabalha com TI mas é apaixonada por cinema.

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