Coletivo pede que revistas reconheçam e atenuem o impacto da pandemia na produtividade de mulheres pesquisadoras

19 de maio de 2020

O coletivo feminista #femedtech publicou uma carta aberta a editores científicos e conselhos editoriais de periódicos com sugestões para reduzir o impacto da pandemia nas carreiras de mulheres pesquisadoras.

Bruno Leal | Agência Café História

O coletivo feminista britânico #femedtech publicou uma carta aberta na qual pede a editores e conselhos editoriais de revistas acadêmicas que reconheçam e atenuem o impacto desproporcional da atual pandemia do COVID-19 na carreira de mulheres pesquisadoras. 

O documento sugere várias ações que podem diminuir as assimetrias nas relações de gênero no meio editorial científico durante a crise, como atrasar chamadas de artigos, convidar mais autoras femininas para submissão de novos trabalhos e tornar os prazos de revisão e revisão mais flexíveis. Todas essas medidas, segundo o coletivo, devem ser levadas em conta durante e após a crise do COVID-19.

Mulher trabalha em seu computador.
Mulheres pesquisadoras sentem mais os impactos da pandemia que os homens. Foto: Unplash.

O coletivo explica que “em casa, as mulheres são mais propensas a assumir a maior parte da responsabilidade no cuidado das crianças, dos membros idosos da família e dos mais vulneráveis, especialmente durante a quarentena, além de serem mais propensas a assumirem papéis de apoio à comunidade que estão sofrendo o impacto do vírus.”

Diversas pesquisas indicam essa sobrecarga invisível da mulher. Na carta aberta, o #femedtech cita um estudo da University College London que demonstrou como, durante a pandemia, à medida que o ensino se torna online, e a necessidade de apoio emocional dos alunos aumenta, as mais são sobrecarregadas com essas tarefas são as mulheres.

“A longo prazo, esses fatores podem ter um impacto significativo na progressão na carreira das mulheres , além de poder aumentar a precariedade de seu trabalho. Elas assumem cada vez mais as funções de apoio emocional, mas esse é um trabalho que raramente é reconhecido ou recompensado da mesma maneira que artigos publicados. Encorajamos editores e conselhos editoriais a ajudar a atenuar os efeitos da pandemia nas contribuições e nas carreiras de mulheres acadêmicas.”

Dupla jornada no Brasil 

No Brasil, a dupla jornada feminina foi recentemente demonstrada por um módulo especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada no final de abril de 2020. A jornada semanal das mulheres, segundo a pesquisa, dura em média 3,1 horas a mais do que a dos homens considerando o tempo dedicado ao emprego e ao cuidado da casa e de seus moradores. E isso atinge tanto mulheres que atuam na área de pesquisa quanto nos mais diversos campos profissionais.

O que é o #femedtech

A #femedtech surgiu em 2016, depois de uma rodada de discussões durante um evento acadêmico que contou com a participação de mulheres do Reino Unido que trabalhavam em Tecnologia Educacional. Após extensos debates sobre a questão de gênero no meio, um grupo de pesquisadoras criou a organização com o intuito de refletir sobre as perspectivas femininas no campo da Tecnologia da Educação.

Como citar esta notícia 

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Coletivo pede que revistas acadêmicas reconheçam e mitiguem o impacto desproporcional da pandemia na produtividade de mulheres pesquisadoras.  (Notícia). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/impacto-do-novo-coronavírus-na-produtividade-das-mulheres/. Publicado em: 19 mai. 2020. ISSN: 2674-5917. Acesso: [informar a data].

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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