Livro sobre a relação entre afro-americanos e o McDonald’s vence o prêmio Pulitzer na categoria “história”

Vencedores da edição de 2021 foram divulgados na última sexta-feira. Questão racial nos Estados Unidos dominou a premiação.
13 de junho de 2021
Livro sobre a relação entre afro-americanos e o McDonald's vence o prêmio Pulitzer na categoria “história” 1
Detalhe do livro, ainda sem previsão de chegada ao Brasil. Foto: divulgação.

O Prêmio Pulitzer anunciou na última sexta-feira, 11 de junho, a lista dos vencedores da edição de 2021. Na categoria “História”, o vencedor foi o livro Franchise: The Golden Arches in Black America (em tradução livre para o português, “Franquia: Os Arcos Dourados na América Negra”), da historiadora Marcia Chatelain e publicado pela editora Liveright/Norton.

Na obra, Chatelain examina a relação ambígua entre os negros americanos e a mais famosa cadeia de fast food do mundo, o McDonald’s. Segundo a historiadora, a franquia tem sido, ao mesmo tempo, fonte de poder e desespero para os afro-americanos.

Após o assassinato de Martin Luther King Jr., em 1968, vários ativistas negros americanos se voltaram para o empreendedorismo como forma de alcançar igualdade, força política e econômica. Tomaram empréstimos, aprenderam técnicas de gestão e enfrentaram uma grande burocracia a fim de se tornarem donos de uma franquia do restaurante. Muitos desses empreendedores acreditavam também que a abertura de um McDonald’s em seus bairros poderia melhorar a qualidade de vida da população local.

O sucesso financeiro veio com o tempo. No final dos anos 2000, os restaurantes McDonald’s franqueados para negros relataram vendas totais superiores a US$ 2 bilhões. O faturamento chega a ser 25% maior do que o dos franqueados para brancos.

Esse ativismo empreendedor, porém, também revelou seu lado perverso, mostra a pesquisadora. Atualmente, cadeias de fast food como o McDonald’s estão super concentradas em bairros negros, pobres e racialmente segregados. Diferente do que se imaginava, esse tipo de negócio não trouxe prosperidade ou melhoria de vida significativa para a comunidade. Muitos desses bairros testemunharam a multiplicação de subempregos e a adoção de uma dieta que fez aumentar casos de diabetes e obesidade, além de outros problemas de um agressivo capitalismo.

“O McDonald’s nos fornece um prisma para nos perguntarmos: por que um McDonald’s deve ter um papel tão importante em certas comunidades e, em outras, pode ser apenas um lugar para comer? Acho que é muito fácil para nós menosprezar os afro-americanos que escolheram a franquia como o caminho a seguir. Mas sabemos como terminou a história das décadas de 1960 e 1970. Acho que o McDonald’s forneceu uma oportunidade para alguns, mas às custas de muitos”, revelou Chatelain em entrevista recente à rádio NPR.

Marcia Chatelain é atualmente professora de história e estudos afro-americanos na Universidade de Georgetown, e é uma das principais vozes públicas no campo da história da raça, da educação e da cultura alimentar. Ela também é autora de South Side Girls. Chatelain vive atualmente em Washington, DC, nos Estados Unidos.

Questão racial em destaque

O livro de Chatelain não foi o único vencedor do Pulitzer 2021 a abordar a questão racial nos Estados Unidos. O tema dominou esta edição do prêmio. Na categoria “Biografia”, Les Payne e Tamara Payne levaram a melhor, autor e autora de The Dead Are Arising: The Life of Malcolm X (“Os mortos estão se levantando: A vida de Malcom X”). Na categoria “Poesia” venceu Natalie Diaz, autora de Postcolonial Love Poem (“Poema do amor pos-colonial”), que examina experiências de mulheres queer não brancas. A questão racial também é central em obras de vencedores nas categorias “Não ficção”, “Crítica”, “Fotografia”, “Música” e “Notícias de última hora”.

Clique aqui para conferir todos os finalistas e vencedores da edição 2021 da premiação.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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