I Wanna Dance with Somebody: um olhar sobre o ícone Whitney Houston

É sabido que, como gênero, o musical não agrada a todos – na verdade, ou se ama ou se odeia os musicais – mas cria oportunidades únicas para o cinema sair do patamar de entretenimento barato e se tornar espetáculo.
16 de junho de 2023
I Wanna Dance with Somebody: um olhar sobre o ícone Whitney Houston 1
“I Wanna Dance with Somebody”. Foto: reprodução.

Um filão do cinema que vem chamando cada vez mais atenção é o cinema feito por mulheres. Outro filão cuja curiosidade sobre parece inesgotável é o das cinebiografias, os filmes biográficos. Quando estes dois filões convergem, o resultado é sempre muito aguardado, em especial quando se trata de mulheres fazendo filmes sobre outras mulheres notáveis. Este é o caso de “I Wanna Dance With Somebody”, cinebiografia de Whitney Houston dirigida por Kasi Lemmons.

Nossa história começa em 1983, e encontramos Whitney Elizabeth Houston – Nippy para os íntimos – cantando no coral da igreja e também como backing vocal para a mãe, a então famosa cantora Cissy Houston. Desapontada com as brigas constantes entre os pais, ela sai de casa no mesmo momento em que é descoberta e contratada por uma gravadora. A partir de então, ela vai num crescente de sucesso, atravessado por questões pessoais como o turbulento casamento com o também cantor Bobby Brown e o uso de drogas.

Pela própria profissão da biografada, fica claro que esta é uma cinebiografia musical. São muitos os números musicais, dos mais intimistas aos espetáculos que só o cinema musical é capaz de oferecer. É sabido que, como gênero, o musical não agrada a todos – na verdade, ou se ama ou se odeia os musicais – mas cria oportunidades únicas para o cinema sair do patamar de entretenimento barato e se tornar espetáculo. É exatamente isso que “I Wanna Dance with Somebody” é: um filme-espetáculo.

O pai de Whitney comenta sobre como precisarão mudar a imagem da garota, com roupas mais femininas como vestidos e deixando o cabelo dela crescer. Tudo isso para construir a imagem da nova “namoradinha da América” – e em nenhuma hipótese esta namoradinha pode ser uma mulher que namora outra mulher. Por isso, novamente o pai de Whitney toma a dianteira e aconselha a filha a ser vista e fotografada em encontros com rapazes. Como mais tarde o pai externa em palavras, cuidar da imagem de Whitney Houston é cuidar da marca “Whitney Houston”.

Numa cena, o dono da gravadora, Clive (Stanley Tucci), pergunta de que tipo de música Whitney gosta, elencando, entre as opções, “música negra” e “música branca”. Pouco depois, um radialista pergunta para a cantora por que suas músicas não são “negras o suficiente”. A resposta dela é que música não tem cor, mas a verdade é que vemos essa divisão na própria indústria da música, embora caiba aqui a reflexão para saber quando se está tratando de um tipo musical em particular ou apenas estereotipando uma arte.

Devemos dar destaque não apenas para a direção segura de Kasi Lemmons, mas também pela atuação potente de Naomi Ackie. Kasi Lemmons é também atriz – tendo aparecido em filmes como “O Silêncio dos Inocentes” (1991) e “O Mistério de Candyman” (1992) – e roteirista – sendo responsável, por exemplo, pelo roteiro da inspiradora cinebiografia “Harriet” (2019), que também dirigiu.

Como dito por Clive no próprio filme “I Wanna Dance with Somebody”, as canções precisam ser ótimas para que a personagem seja ótima. E “ótima” é um adjetivo muito pequeno perto de tudo que Whitney Houston representava.
A primeira palavra que vemos na tela, ainda sobrepondo os créditos iniciais, é “livre”. Outro bom termo para tentar descrever Whitney, mas algumas poucas palavras não foram suficientes: foi preciso um filme-espetáculo, com quase duas horas e meia de duração, para dar conta da figura maior que a vida que foi a inigualável Whitney Houston.

Letícia Magalhães

Historiadora e crítica de cinema. Contribuiu com sites como Filmes e Games e Leia Literatura. Mantém desde 2010 o blog Crítica Retrô, sobre filmes clássicos e antigos, e contribui para os sites Revista Eletrônica Ambrosia e Cine Suffragette, no qual é também editora. Foi vencedora do prêmio do Collegium do Festival de Cinema Mudo de Pordenone em 2021, escrevendo sobre o que mais gosta: cinema e história.

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