Historiadores e historiadoras por um dia

Baseado em metodologia interativa, professor de História elaborou uma proposta didática que estimula estudantes a serem historiadores e historiadoras por um dia.
16 de janeiro de 2023
Historiadores e historiadoras por um dia 1
Imagem de abertura do site "Janela Para a História"

Com a leitura de documentos, interpretação de tabelas e imagens, os alunos e alunas do professor Éder Nascimento, da Escola Municipal Nossa Senhora Aparecida, no município de Boa Ventura de São Roque, Paraná, puderam experimentar os desafios do trabalho de um/a historiador/a profissional. A simulação é uma atividade didática inovadora que integra o trabalho final de conclusão de curso Nascimento no ProfHistória, “A metodologia WebQuest na aula de História”, defendido na Universidade Estadual do Paraná, em 2018.

Nascimento desenvolveu a metodologia WebQuest nas quatro turmas em que era professor regente, duas de 8º ano do ensino fundamental e duas do 2º ano do ensino médio. Conforme dados do IBGE de 2019, a população Boa Ventura de São Roque foi estimada em 6.387 habitantes. A Escola Municipal Nossa Senhora Aparecida está situada na área ubrana, mas recebe grande parte dos estudantes vindos do campo.  

“Janela para a história”: alunos investigadores

O professor utilizou o site “Janela para a história” para hospedar o seu projeto, desenvolvido com base em uma metodologia chamada WebQuest. O portal, coordenado pelo professor da Universidade Estadual do Paraná, Fábio André Hahn, conta com 6 casos a serem desvendados por estudantes de forma interativa.

O caso elaborado por Nascimento, “A presença dos escravos no estado do Paraná – Século XIX”, por exemplo, propõe aos estudantes que ajam como se fossem um famoso historiador. Sua a tarefa é redigir uma matéria de capa para o jornal Diária Paranaense sobre a população escravizada no Paraná ao longo do século XIX.

Essa WebQuest foi desenvolvida em turmas de 8º ano do ensino fundamental e 2º ano do ensino médio, por estar de acordo com o currículo da disciplina História nesses anos escolares.

A tarefa é guiada por pistas que devem ser seguidas pelos estudantes com o objetivo de concluí-la de maneira embasada. A primeira pista apresenta comparações entre aspectos da escravidão no Rio de Janeiro e no Paraná. Nesse momento, é possível perceber as diferenças entre o cotidiano mais urbanizado do Rio de Janeiro e o contexto rural do Paraná.

As duas últimas pistas dizem respeito à quantidade de pessoas escravizadas no estado do Paraná em 1818 e ao caso de uma fazenda administrada pela população negra que conquistou sua liberdade. Essa última pista contribui para compreensão de que as pessoas negras que vivenciaram o século XIX no estado do Paraná eram plenamente capazes de realizar atividades complexas e não subalternizadas.

Vale destacar que o site é organizado de maneira que os estudantes se sintam de fato historiadores em busca dos vestígios do passado. Cada pista é acompanhada de documentos, como fotografias antigas, mapas, links de vídeos e textos a respeito da temática trabalhada. A cada nova pista os estudantes são incentivados a aprofundar seus conhecimentos acerca da escravidão no Paraná, sempre de forma interativa.

A metodologia WebQuest

Nascimento explica em seu trabalho que a metodologia WebQuest foi desenvolvida pelos estadunidenses Bernie Dodge e Tom March, em 1995. Apesar de ter se popularizado em países como Portugal e Espanha, é ainda pouco conhecida no Brasil.

De maneira simplificada, a WebQuest é uma proposta didática, hospedada em portal eletrônico, em que os estudantes assumem papel de relevância no processo de ensino e aprendizagem, seja na figura de investigadores, historiadores, ou mesmo de professores. O papel a ser desempenhado pelos estudantes depende dos objetivos de cada proposta.

A metodologia WebQuest possui uma estrutura pré-definida, com as seguintes etapas: introdução, tarefa, processo, avaliação e conclusão. Os estudantes devem cumprir, de acordo com a metodologia, uma determinada tarefa como protagonistas.

Ao longo da realização da tarefa, os estudantes produzem registros, que podem ser realizados em diferentes linguagens, como textos escritos, entrevistas, vídeos etc. Esses registros servem de avaliação para o professor.

Resultados do projeto

Após o desenvolvimento da atividade em sala de aula, Nascimento sublinha que os resultados foram mais satisfatórios nas turmas de 2º ano do Ensino Médio. Nessas turmas, os estudantes produziram textos mais originais e organizados. Enquanto nas turmas de 8º ano a maior tendência foi à cópia dos textos apresentados na tarefa.

Nas quatro turmas, segundo o professor, de maneira geral os textos escritos não fugiram daquilo que os estudantes costumavam produzir em suas tarefas cotidianas. Tal fato, ele explica, revela a necessidade de repensar o uso de tecnologias em sala de aula não apenas do ponto de vista técnico, mas também na perspectiva das metodologias e práticas pedagógicas.

Apesar dos desafios, o uso da metodologia WebQuest permitiu aos estudantes experimentar as aulas de História fora da posição comum de ouvintes. Ao contrário, puderam estabelecer uma aproximação com o trabalho de investigação do historiador, realizar comparações, sínteses e questionamentos. Nesse caso, os processos da relação de ensino e aprendizagem foram construtivos e satisfatórias, e não apenas os resultados.  

Thaís Pio Marques

Faz parte da equipe do Café História, onde realiza estágio voluntário. Graduada em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Durante a graduação fez parte do Grupo PET Conexões de Saberes – Licenciaturas, voltado para a elaboração e desenvolvimento de Projetos pedagógicos interdisciplinares. Atualmente, organiza o perfil de Instagram “Poesia e oralidade”, onde compartilha textos breves sobre competições de poesia (slams) e seus participantes. O trabalho na rede social é
articulado aos estudos sobre História Oral e História Pública.

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