Professora de História cria audioteca online sobre mitos afro-ameríndios brasileiros

Ao todo, foram produzidos quatro podcasts que contam mitos iorubás e indígenas. Episódios são acompanhados de sugestões de atividades para serem realizadas em sala de aula.
12 de junho de 2024
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Os quatro podcasts trazem narrativas de origem iorubá e indígena, sendo uma da etnia Guarani, e a outra da etnia Bororo. Foto: montagem/Pixa Bay.

Iansã Borboleta, Oxóssi da Floresta, Mani da Oca, Estrelas Bororo. Esses mitos brasileiros de origem afro-ameríndia se tornaram temas de podcasts para serem utilizados em aulas de História. Os áudios estão disponíveis em uma audioteca online que pode ser acessada aqui.

O projeto é resultado da dissertação “Mitos afro-ameríndios na Educação: os ‘Contos da Terra’ nas aulas de História”, defendida por Vanessa de Melo Lino, em 2022, no Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade Federal de Santa Catarina.

O projeto contempla o estabelecido nas leis 10.639/03 e 11.645/08, que tornou obrigatório o Ensino da História e cultura afro-brasileira e indígena na educação básica de todo o país.

“Acredito que as narrativas míticas, entendidas como modelos nos quais o desenvolvimento humano acontece, formas de entender o mundo e a ação humana, também são potencialmente formas de desenvolver a consciência e o conhecimento histórico, uma relação dinâmica entre experiência do tempo e intenção no tempo, se relacionando diretamente com a vida humana prática e com a história de cada um de nós”, justifica a pesquisadora.

Para Vanessa, prevalece no modelo escolar brasileiro uma tendência eurocentrista, em que mitos não possuem caráter lógico-racional e são categorizados como elementos do campo das superstições. “Muito antes do surgimento da Filosofia, e com ela o uso da Razão (logos) para explicar essencialmente a vida, já existiam os mitos e os ritos como sistemas complexos de conhecimento, transmissão de saberes e formas de interpretar o mundo”, afirma.

A pesquisa está dividida em três partes. Nos dois primeiros capítulos, a autora propõe uma discussão teórica sobre o conceito de mito e o uso didático da narrativa mítica em aulas de História. O último capítulo é dedicado à apresentação da proposta da audioteca e sugestões de atividades pedagógicas com base no conteúdo dos episódios. O trabalho está disponível aqui.  

Oralidade e tradição

Os quatro podcasts trazem narrativas de origem iorubá e indígena, sendo uma da etnia Guarani, e a outra da etnia Bororo. Cada áudio tem, aproximadamente, quatro minutos de duração e é acompanhado de sugestões de atividades para serem realizadas nas aulas de História ou em aulas interdisciplinares. Entre as propostas estão desenhos e pinturas, releituras, criação de textos, de roteiros e peças teatrais, produção de maquetes, cenários e recital de poesias.

A escolha da criação de uma audioteca, intitulada “Contos da terra”, vai em encontro à tradição oral dos povos originários. Por meio de efeitos sonoros, os áudios remetem a uma roda de “contação” de histórias, estimulando a imaginação dos ouvintes. “Ao ouvir os podcasts, gostaria que eles gerassem essas sensações de estarem na natureza, em volta de uma fogueira, remetendo a histórias contadas pelos mais velhos para as gerações mais novas, ancoradas na valorização da ancestralidade”, conta.

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Cada áudio tem, aproximadamente, quatro minutos de duração e é acompanhado de sugestões de atividades para serem realizadas nas aulas de História ou em aulas interdisciplinares. Foto: Bruno Lima

No episódio “Oxóssi da floresta”, por exemplo, os alunos são provocados a refletirem sobre o sincretismo religioso, resultado da associação de orixás a santos católicos. Também há uma sugestão de atividade sobre intolerância religiosa envolvendo charges e tirinhas de jornais. Já no episódio “Estrelas Bororo”, a proposta é que os estudantes pesquisem sobre o domínio da astronomia pela etnia Bororo e também montem uma encenação teatral com os elementos do mito indígena.

“As explicações míticas e religiosas, configuram as formas primeiras de explicação do mundo, vivas na experiência, na memória e na psique da humanidade desde o surgimento dos primeiros grupos sociais até agora, e por isso, a meu ver, deveriam ser mais presentes nos processos educativos”, conclui Vanessa.

Bruno Lima

Graduado em Jornalismo e História. Meste em História pelo Programa de Pós-graduação em História Social na Universidade de Brasília (UnB). Dedica-se a estudos de História do Brasil República, com ênfase na Era Vargas, direitos trabalhistas, História Social do Trabalho, Justiça do Trabalho, comunismo e anticomunismo e PCB nos anos 1930. Escreve regularmente sobre mestrado profissional em História (ProfHistoria) para o Café História.

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