Dicas de livros: maio de 2015

7 de maio de 2015
Ciência e Política | Marcos Antonio Perruso e Monica da silva Araujo (Orgs) | Mauad  | 2015 | 395 pp.

Dicas de livros: maio de 2015 1Já pode ser encontrado nas livrarias o livro “Ciência e Política – memórias de intelectuais”, organizado por Marco Antonio Perruso e Mônica da Silva Araújo. A obra, recém-lançada pela editora Mauad X e pela FAPERJ, é uma coletânea que traz entrevistas com importantes intelectuais brasileiros – professores universitários, pesquisadores ou assessores de entidades populares – vinculadas ao movimento sindical e a movimentos sociais nos anos 1970/80, período tanto de expansão e renovação das ciências sociais nacionais, como de avanço no processo de redemocratização e de reconstrução de nossa sociedade civil organizada. São ao todo dezesseis entrevistados. Na lista estão, por exemplo, Arnaldo Mazzei Nogueira, professor titular na PUC-SP, José Álvaro Moisés, professor titular do Departamento de Ciência Política da USP, e Vera da Silva Telles, também professora livre-docente do Departamento de Sociologia da USP. Além das entrevistas, “Ciência e Política” também traz três artigos: “O pensamento social e político do passado no contexto da institucionalização das Ciências Sociais no Brasil”, de aparecida Maria Abranches, “História Oral e campo intelectual: alguns apontamentos”, de Marco Antonio Perruso, e “Fronteiras difusas: movimentos sociais, intelectuais e construção de conhecimentos no Brasil, de Breno Bringel. A ideia desses três artigos é introduzir o leitor a temática que será explorada através das entrevistas. Como sublinhou Elina G. Da Fonte Pessanha, professora da UERJ, trata-se da oportunidade de “ouvir os depoimentos desses intelectuais sobre suas próprias experiências, trajetória e escolhas, ajudando-nos a compreender o sentido de sua aproximação e identificação com o novo socialmente produzido e a produzir, que marcaria indelevelmente o futuro da produção sociológica e os projetos – ainda em curso hoje – as de nossa sociedade rumo à democracia. Para conhecer mais sobre o livro, clique aqui.

Ísis Americana  | Carl Rollynson | Bertrand Brasil | 2015 | 390 pp.

Dicas de livros: maio de 2015 2Na literatura norte-americana, são poucos os nome que evocam tanta pungência quanto o de Sylvia Plath. Nascida em Massachussets, em 1932, Plath foi uma das maiores poetisas, romancistas e contistas de seu tempo, nos Estados Unidos. Tamanha força não se deu apenas graças a seu estilo, mas também a vida intensa que levou. Cometeu suicídio aos trinta anos, colocando a cabeça num forno enquanto os filhos dormiam no andar de cima, em quartos que ela vedara contra o gás venenoso. Sua vida e obra já foi retratada em peças, livros e filmes. Mas sempre há alguma camada nova a ser discutida e revelada. Por isso, as investigações sobre sua vida nunca se esgotam. Neste sentido, acaba de ser lançada mais uma biografia sobre a poetiza: “Ísis Americana – A vida e a arte de Sylvia Plath”, do pesquisador Carl Rollyson, professor de jornalismo na Baruch College, em Nova York. A biografia escrita por Rollyson é a primeira a utilizar materiais recém-integrados aos arquivos de Ted Hughes na Biblioteca Britânica. O livro, que foi publicado originalmente na ocasião dos 50 anos da morte de Plath, foi escrito, segundo o autor “em parte porque sentia existirem aspectos de Sylvia Plath que outros biógrafos haviam desprezado ou entendido de forma equivocada”. Rollyson, por exemplo, disse que abordou muito pouco sobre o passado dos pais de Plath. Além disso, ele escolheu contextualizar pouco. Na sua opinião, os biógrafos de Plath repetiram bastante esse exercício antes dela, algo que, na sua opinião, era dispersivo para quem que desejasse ter uma visão do que Plath defendia ou de quem ela foi. Rollyson disse que preferiu concentrar-se na abordagem dos textos cruciais de Plath. E aí, interessou? Clique aqui para saber mais.

Ordem Mundial | Henry Kissinger | Objetiva | 2015 | 427 pp.

Dicas de livros: maio de 2015 3Acaba de ser publicado no Brasil pela editora Objetiva o novo livro de Henry Kissinger, “Ordem Mundial”, baseado na pesquisa e na experiência do autor como assessor de Segurança Nacional e secretario de Estado americano. O livro é dividido em nove capítulo que buscam discutir os vários projetos de ordem mundial ao longo da história, da Guerra dos Trinta Anos e seus descobrimentos no mapa geopolítico europeu, até a China contemporânea, passando pelo imediato pós-Segunda Guerra Mundial e pelo conflito no Oriente Médio. Este é o sétimo livro de Kissinger desde o seu primeiro, “Nuclear Weapons and Foreign Policy”, publicado pela primeira em 1957. Aos 91 anos, Henry Alfred Kissinger é um personagem importante (e polêmico) da história internacional contemporânea. Judeu nascido em Fürth, Alemanha, em 1923, imigrou para os Estados Unidos em 1938, após o recrudescimento do antissemitismo nazista em seu país de origem. Em 1943, aos vinte anos, tornou-se cidadão americano. Depois de Servir na Segunda Guerra Mundial, fez doutorado em Harvard, em 1954, e logo entrou para o círculo do poder nos Estados Unidos, sendo conselheiros de diversos presidentes. Em 1973, ganhou o Prêmio Nobel da Paz, mas muitos o acusam de cometer crimes de guerra em episódios em que o governo americano interferiu militarmente em outros países. Apesar da idade avançada e de toda a controvérsia envolvendo seu trabalho na Casa Branca, Kissinger ainda é um homem produtivo e cujas ideias ainda possuem grande influência na maneira de se pensar e de se fazer política. Para saber mais sobre esse lançamento, clique aqui.

Crer & Destruir | Christian Ingrao | Zahar | 2015 | 475 pp.

Dicas de livros: maio de 2015 4Embora o Holocausto tenha sido um dos crimes mais bárbaros que se tem conhecimento, ele não foi cometido por homens sem instrução, sem consciência histórica ou cultural. A “Conferência de Wannsee”, por exemplo, realizada em 20 de janeiro de 1942, reuniu quinze servidores públicos nazistas de alto escalão, muitos dos quais graduados e pós-graduados, cuja pauta era a execução em massa de milhões de pessoas. Tendo em perspectiva que a máquina de matar nazista não poderia ter existido sem um sofisticado grau de comprometimento ideológico, o historiador Christian Ingrao escreveu “Crer e destruir – Os intelectuais na máquina de guerra da SS nazista”, que acaba de ser publicado no Brasil pela Editora Zahar. Neste livro, Ingrao, que é diretor do renomado Institut de L’Histoire du Temps Présent, em Paris, especialista em estudos da guerra e do nazismo, esmiúça as redes militantes, universitárias e de amizade responsável pela difusão ideológica de superioridade e inferioridade racial, cultural e social que o nazismo criou com tanto esmero. Essa concepção, baseada em falsos princípios científicos, arrebanhou toda uma geração de intelectuais que doaram boa parte de suas vidas à serviço da Alemanha Nazista. Ingrao se debruça principalmente sobre os homens da SS, a temível unidade de proteção da elite do Partido Nazista, a partir de uma longa pesquisa realizada nos arquivos da SD e da SS. Clique aqui para saber mais.

1964: 50 anos depois | Grimaldo Carneiro Zachariadhes (Org.) | EDISE | 2015 | 579 pp.

Dicas de livros: maio de 2015 5Acaba de ser publicado pela Editora EDISE, em parceria com o Memórias Reveladas do Arquivo Nacional – Rio de Janeiro, o livro “1964: 50 anos depois”, organizado pelo historiador Grimaldo Carneiro Zachariadhes. Esta coletânea, um importante eco dos debates ocorridos ano passado por conta dos cinquenta anos do golpe civil-militar no Brasil, traz dezoito artigos elaborados por vinte pesquisadores. Nas palavras de Zachariadhes, o livro “pretende estimular o grande público a enveredar-se pelo conhecimento profundo desse passado em nosso país”. Para tal empreendimento, a leitura não poderia começar de outra forma. No artigo “Amnésia, repressões, mitos: como se conta o passado após uma ditadura”, Bruno Groppo explora a realidade histórica de diferentes países após experiências autoritárias ou totalitárias para demonstrar como essas sociedades, evidenciando a maneira como tais países acabaram reprimindo certos aspectos de seus passados e até mesmo se refugiando em representações miticas sobre estes. Tal começo é acertado porque alerta para os perigos (nem sempre evidentes) que rondam aqueles que trabalham com a análise e problematização do passado ditatorial brasileiro. O alcance do livro, no entanto, vai muito além. Destaque, por exemplo, para as análises de experiências regionais no âmbito da ditadura (Bahia, Sergipe, Espírito Santo) e também para objetos de estudos que somente agora começam a ser plenamente estudados, caso do artigo de Angela Moreira Domingues da Silva sobre o papel do Supremo Tribunal Militar no julgamento de crimes políticos. Para adquirir o livro e conhecer os demais artigos, igualmente interessantes e com grande qualidade, escreva para [email protected] ou vá a sede da EDISE, em Aracajú, ou do Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro | Marieta de Moraes Ferreira (Coord.) | FGV Editora | 2015 | 209 pp.

Dicas de livros: maio de 2015 6O Rio de Janeiro é uma cidade que esbanja história: foi capital da Colônia, Império e República. Produziu a Bossa Nova e seduziu milhões de imigrantes do mundo inteiro. Na cidade nasceram políticos, intelectuais e artistas dos mais variados movimentos e ideologias. Memórias e histórias que estão nas suas ruas, praças, monumentos e edifícios. Em 2015, mais do que nunca, é o momento de celebrar tudo isso, afinal de contas a “cidade maravilhosa” (e também “purgatório da beleza e do caso”, como diz a música) completa 450 anos. Como parte deste celebração, os historiadores, evidentemente, não poderiam ficar de fora. Visando compreender as múltiplas faces desta cidade-passado, a FGV Editora acaba de lançar a segunda edição de “Rio de Janeiro – Uma cidade na história”, organizado pela pesquisadora Marieta de Moraes Ferreira (FGV/UFRJ). O livro reúne oito artigos inéditos que cobrem algum aspecto da história do Rio de Janeiro. Américo Freire, por exemplo, explora as forças políticas da cidade no contexto da implantação republicana. Já Lucia Lippi Oliveira explora a sua cultura urbana, enquanto que José Luciano Dias discute os partidos e eleições cariocas. Mais do que encapsular a história da cidade dentro de signos imóveis, o livro propõe uma leitura crítica desta história, além de uma análise dos muitos imaginários e identidades que brotam em seus espaços, forjados por seus residentes e visitantes. Os artigos de “Rio de Janeiro – Uma cidade na história”, neste sentido, evocam um olhar sociológico que apenas enriquece a análise historiográfica. Para saber mais sobre o livro, clique aqui.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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