O pouco lembrado ensaio do historiador Marc Bloch sobre fake news

Pouca gente sabe, mas o famoso historiador Marc Bloch escreveu um ensaio sobre fake news em 1921: “Reflexões de um historiador sobre as falsas notícias da guerra”. Nele, o francês explora o fenômeno no contexto da Primeira Guerra Mundial, na qual ele mesmo atuou como combatente.
23 de dezembro de 2022
<strong>O pouco lembrado ensaio do historiador Marc Bloch sobre fake news</strong> 1
Marc Bloch como soldado em 1914 (à esquerda) e a página de título de seu artigo sobre notícias falsas (1921) (à direita). Imagens: (Retrato Bloch): Carole Fink, Marc Bloch. A Life in History , Cambridge 1989, p.63. (Página de rosto): Revue de synthèse historique , vol. 7, 1921, p. 13. retirado de https://bilderfahrzeuge.hypotheses.org/3854.

O historiador francês Marc Bloch (1886-1944) é bastante conhecido na área de História, sobretudo por que foi ele um dos fundadores do chamado “movimento dos Annales”, que mudou a forma como pensamos e escrevemos história. No entanto, pouca gente conhece um ensaio que ele escreveu em 1921 sobre o fenômeno das fake News: “Reflexões de um historiador sobre as falsas notícias da guerra”, que pode ser lido em português aqui.

O texto foi originalmente publicado em francês em um periódico científico muito conhecido na época chamado Revue de synthèse historique. Nele, Bloch faz uma reflexão sobre a circulação social de notícias falsas durante a Primeira Guerra Mundial. É um texto muito bem escrito, extremamente atual e que é escrito por alguém que esteve no cambo de batalha como soldado. “Durante quatro anos ou mais, por toda a parte, em todo os países, na frente como na retaguarda, vimo-las nascer e pular; perturbavam os espíritos, ora sobrexcitavam ora abatiam as coragens; a sua variedade, a sua bizarria, a sua força continuam a surpreender quem quer que saiba recordar e se recorda de ter acreditado”, diz Bloch sobre as notícias falsas que circularam no meio das tropas.

O artigo de Bloch fala, por exemplo, sobre os medos dos soldados alemães sobre atiradores belgas, mencionados em relatórios falsos publicados pelas forças inimigas, e dos potenciais espiões, que estariam à espreita em todo lugar. Mas o mais impressionante é a leitura que Bloch faz do fenômeno de uma forma geral. Ele sublinha:

“O erro só se propaga, só se amploa, só vive com uma condição: encontrar na sociedade em que se difunde um caldo de cultura favorável. Nele, inconscientemente, as pessoas exprimem os seus preconceitos, os seus ódios, os seus medos, todas as suas emoções fortes”. Atual, não?

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

Deixe um comentário

Your email address will not be published.

Don't Miss