Mídias Digitais: uma nova forma de se fazer livros

28 de julho de 2017
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Mesa no XXIX Simpósio Nacional de História apresentou a experiência da Históri@ Illustrada, coleção que explora as possibilidades multimídia dos livros digitais.

Por Ana Paula Tavares | Agência Café História

Desenvolvida pelo Centro de Pesquisa em História Social da Cultura da Universidade Estadual de Campinas (Cecult/Unicamp) e publicada pela editora da Unicamp, a coleção “Históri@ Illustrada” reúne livros que desde o início de sua elaboração são pensados para explorar as potencialidades que a o suporte digital oferece. Mais do que incluir – de forma abundante – imagens, sons e vídeos, o desafio é repensar a narrativa do texto de forma a integrar as fontes não textuais à leitura, disponibilizadas em acesso livre.

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Silvia Lara durante sua apresentação na UnB. Foto: Ana Paula Tavares.

Na apresentação “Mídias Digitais: ‘História para ler, ver e ouvir’ – Os desafios da difusão do conhecimento no mundo contemporâneo”, Silvia Lara, coordenadora do projeto, compartilhou a experiência dessa nova produção. Ela conta que foram dois anos de trabalho, da ideia inicial até os primeiros lançamentos.

– É um desafio convencer as editoras de que isso é viável. Quando pensam em livro digital, pensam em pdf, onde não cabe som e nem imagem. As editoras, as distribuidoras, os leitores [reader], todas as etapas da cadeia de produção de um livro não estão preparadas para estes novos tipos de livro descolado do papel, essa nova linguagem.

Aprendizagens e dicas

Lara relatou que o projeto tem sido de muitas aprendizagens, erros e acertos: “uma imensa quantidade de pequenos desafios”. A primeira versão do livro de estreia, por exemplo, havia sido feito com layout fixo, o que impossibilitava a inclusão simultânea da proteção contra cópia e do material multimídia junto – e o produto teve de ser refeito.

Respondendo ao público, a coordenadora explicou que o respeito às leis de direitos autorais é muito importante e se dá de forma análoga à dinâmica de uso de textos de terceiros nos livros impressos. A situação varia conforme o caso, podendo haver compra de material, negociação de licenciamento ou uso de trechos como citação.

Os desafios de escrever e-books

A coleção já conta com dois livros lançados – “Não tá sopa: sambas e sambistas no Rio de Janeiro”, de Maria Clementina Pereira Cunha, que também colabora na produção da coleção, e “Estilo moderno: humor, literatura e publicidade em Bastos Tigre”, de Marcelo Balaban – além de um prestes a ser lançado, “Da senzala ao palco: canções escravas e racismo nas Américas (1870-1930)”, de Martha Abreu.

Balaban sublinhou que, ao ser convidado para escrever para a coleção, a proposta era resgatar uma pesquisa que ele havia realizado e não tinha publicado. Mas que foram necessárias muitas alterações na transformação de sua pesquisa para a criação deste tipo de livro:

– Transformei os meus três capítulos em dez. O centro do texto não é necessariamente a narrativa historiográfica, então essa escrita muda. A ideia é de colocar num grau de importância semelhante fontes mais completas e não só os fragmentos que destacamos na nossa análise como autores. E isso muda a forma que o texto vai ser lido.

Abreu chamou a atenção para as orientações e regras que o autor precisa conhecer e se apropriar nessa produção.

– Quando você é contatado por uma editora, ela só orienta sobre como devem ser as notas de rodapé e a bibliografia. Agora, para esta coleção, a Silvia me mandou um “catatau” de regras. Foram muitas conversas, muitos “skypes” e negociações, sobre a qualidade imagem, por exemplo. E a possibilidade – quase ilimitada – de usar imagens, me fez ir atrás de mais material, de mais capas de partitura [das canções de senzala]. A gente tinha conseguido muitas dos EUA, mas poucas daqui do Brasil. E com a motivação do livro, eu fui atrás.

Os livros e seus vídeos

Para cada livro foi realizado um vídeo, que não faz exatamente um resumo do livro, mas algo próximo de uma sinopse e de uma introdução às suas principais discussões.

– Não queríamos pensar só no debate acadêmico, mas permitir que a gente pudesse ter um diálogo direto na sala de aula. Então pensamos em produzir para cada livro um vídeo que pudesse ser usado na sala de aula, relata Silvia.

Os vídeos dos dois livros lançados estão disponíveis gratuitamente no Youtube e possuem legendas (ver abaixo). O vídeo do terceiro livro, inédito, foi exibido em primeira mão na ANPUH.

Os livros custam cerca de 14 reais e podem ser comprados nas livrarias online e são feitos em versões diferentes para cada dispositivo de leitura (reader). Na Amazon, é preciso fazer download gratuito do Kindle (o programa de leitura roda em qualquer dispositivo, não precisa do aparelho). Clique aqui e aqui. Outros três livros também estão planejados – todas as obras são sobre pesquisas para as quais os suportes de áudio e de imagem são essenciais.


Como citar essa notícia

TAVARES, Ana Paula. Mídias Digitais: uma nova forma de se fazer livros. (Notícia). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/livros-digitais. Publicado em: 28 Jul. 2017. Acesso: [informar data].

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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