Historiador usa canal no YouTube para transmitir orações do século XVII rezadas em latim

Na Igreja da Inglaterra, liturgia latina ainda é permitida, possui longa história, mas é pouco conhecida pelo público.
11 de agosto de 2020

Há algumas semanas, o historiador britânico Francis Young começou uma curiosa e inusitada experiência: através de seu canal no YouTube, ele vem transmitindo um culto dominical rezado totalmente em latim. As orações são retiradas do Livro de Oração Comum, de 1662 (que pode ser baixado gratuitamente aqui). A ideia da transmissão matinal, segundo explicou, é mostrar que o latim ainda pode ser considerada uma língua viva, além de examinar aspectos históricos da Igreja da Inglaterra (também denominada Igreja Anglicana, fundada em 1534) que podem interessar a todos.  

O antigo cerimonial litúrgico surpreendeu o historiador. Em seu blog, Young, que é especializado em história da religião e crença sobrenatural, com mais de 14 livros publicados nessas áreas, disse: “Eu não tinha certeza se alguém iria assistir a esse experimento, mas fiquei surpreso quando o primeiro culto do Latin Matins ultrapassou 500 visualizações em menos de uma semana”.

De acordo com Young, a liturgia latina, muito comum na Igreja Católica Romana, também tem uma história na Igreja da Inglaterra, mas que é ainda muito pouco conhecida pelas pessoas. As orações do Livro de Oração Comum, explica o historiador, são canonicamente sancionadas até hoje pela na Inglaterra. No país, a posição do latim foi salvaguardada e autorizada por diversos “Atos de Uniformidade” publicados pela Igreja da Inglaterra.

“Embora fosse um objetivo fundamental da Reforma Eduardiana tornar a liturgia acessível ao povo comum e, portanto, colocá-la em língua vernácula, isso nunca aconteceu às custas do uso do latim como uma língua de comunicação erudita por aqueles que tinham a capacidade de fazê-lo. Além disso, o Ato de Supremacia Eduardiano permitiu a celebração das Matinas, Vésperas e a Litania em latim (e de fato grego e hebraico), onde o latim era entendido (embora o ato exigisse que a missa fosse dita em inglês em todos os lugares). Os primeiros reformadores não associaram o latim ao catolicismo romano per se, ao contrário de alguns protestantes posteriores, e não considerou que houvesse algo ‘não reformado’ na liturgia latina se a congregação entendesse latim”.

Se cantar orações do Livro de Oração Comum em latim no YouTube é considerado uma atividade canônica, Young brinca dizendo que essa é uma questão que ele deixa para os advogados canônicos resolverem.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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