Historiador Hayden White morre aos 89 anos

6 de março de 2018
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Autor de livros basilares para os campos da Teoria da História e da Historiografia, White era um dos mais importantes historiadores vivos.

Por Bruno Leal | Agência Café História

O historiador norte-americano Hayden White, um dos mais importantes no campo da Teoria da História, faleceu aos 89 anos. A informação foi divulgada esta manhã pelo historiador Ethan Kleinberg em seu perfil no Facebook. Kleinberg é professor na Universidade de Wesleyan, nos Estados Unidos, e era amigo de White.

“É com um coração pesado que informo a morte de Hayden V. White. Ele foi um verdadeiro vencedor no campo da teoria da história. Seu brilho não será substituído e perderemos a energia, a paixão e a inteligência que ele trouxe para todos os seus projetos. Descanse em paz, Hayden” – diz a nota de Kleinberg.

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Hayden White tinha 89 anos. Foto: entrevista no Youtube.

Hayden White graduou-se na Universidade de Wayne em 1951. Concluiu o mestrado e o doutorado na Universidade do Michigan. Era professor emérito de literatura comparada na Universidade de Stanford, assim como professor aposentado da cadeira de história da consciência na Universidade da Califórnia, Campus Santa Cruz. Visitou várias vezes o Brasil, onde tinha muitos colegas no campo acadêmico.

Tendo sido um dos grandes expoentes da chamada “Virada Linguística” na História – o movimento destacava a relação entre filosofia e linguagem – White escreveu livros que provocaram da maneira mais criativa possível o campo da Teoria da História. Entre esses livros estão “Metahistória” (1973), “Trópicos do Discurso” (1978) e, mais recentemente, “The Practical Past” (2014). Nessas obras, White trabalhou com perspectivas que questionaram conceitos e noções já bastante arraigadas no campo historiográfico, tais como verdade, método, autoridade, cientificidade, evidência, entre outros tantos.

O Café História conversou com o historiador Arthur Lima de Avila, professor do Departamento de Historia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que falou sobre a importância de Hayden White para o campo da História:

– Hayden White demonstrou, com seu talento literário e historiográfico ímpar, como o trabalho dos historiadores era muito mais próximo da ficção, entendida como uma dotação de sentido ao mundo e não somente enquanto mentira ou invenção, e que não havia nada de errado nisso; pelo contrário, segundo ele, era somente através do contato com as formas e preocupações literárias (logo, políticas) de um dado tempo que a historiografia poderia atingir aquele objetivo que deveria ser, para White, seu principal: fazer com que as pessoas pudessem compreender seus lugares na história justamente para se libertar de seus fardos.

André de Lemos Freixo, professor do Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) também conversou com o Café História. Freixo destacou o lugar central de White no campo teórico, em especial seu livro de 1973, “Metahistória”:

– Se o único livro que Hayden White publicou tivesse sido Metahistory (o que não foi o caso), poderíamos dizer, sem muito medo de errar, que ele ainda assim estaria no lugar que ocupou até hoje. Talvez por isso seja difícil mensurar o peso e o impacto desta obra seminal de  White, originalmente publicada em 1973. Trata-se de um texto que tornou central o debate em torno da linguagem entre historiadores e filósofos da história. White criticou o uso da linguagem na prática historiadora. Até então ainda parecia-se crer que a linguagem era uma espécie de veículo “neutro” e metodologicamente controlável, com o qual historiadores trabalhavam quando escreviam história. Se há certo exagero em se dizer que ele “inaugurou” a chamada virada linguística entre os historiadores, do mesmo modo, seria um equívoco enorme e imperdoável omitir o peso e a centralidade que seu texto de 1973 trouxe a esta virada. Ele basicamente contribuiu para redefinir toda a agenda teórica e filosófica da história na segunda metade do século XX. Esteve no centro de debates fundamentais sobre narrativa, epistemologia, evento, trauma, etc. Hoje, é impossível pensar teoria e filosofia da história sem pensar, mesmo criticamente, com Hayden White. 


Como citar esta notícia

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Historiador Hayden White morre aos 89 anos (Notícia). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em:  Publicado em: https://www.cafehistoria.com.br/historiador-hayd…orre-aos-89-anos/. 6 mar. 2017. Acesso: [informar data].

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

3 Comments Deixe um comentário

  1. Oportuno e merecido o espaço dado pelo Café História à memória de Hayden White, nome presente nas discussões sobre a teoria e a escrita da História. Muito justas todas as palavras. Vida longa ao Café História!

  2. Guardadas as suas especificidades, Hayden White representa nos EUA o debate que Paul Ricoeur enfrentou na França. Ambos lembram que o ofício da história necessita lidar com questões de linguagem e interpretação,pontos de conexão entre ficção e realidade, decisões sobre a interferência dos jogos da memória, onde ocorre a disputa entre o que deve ser lembrado e esquecido.

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