Um balanço da área de história na Capes

3 de dezembro de 2018
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Em entrevista exclusiva ao Café História, o historiador Carlos Fico faz um balanço de sua gestão da área de história na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a CAPES, entidade governamental responsável por avaliar periódicos científicos e programas de pós-graduação em história no Brasil. Confira como foi esse papo.

Entrevista produzida por Bruno Leal e Pedro Teixeirense

A pós-graduação no Brasil surgiu na década de 1970. À época, existiam apenas 11 mestrados e dois doutorados em História no país. Passados 48 anos, contamos com 62 mestrados, 38 doutorados e 10 mestrados profissionais. Um crescimento impressionante. Não considerando os mestrados profissionais, que são muito recentes na área de História, de 1971 até hoje houve um crescimento de 563% dos cursos de mestrado e de 1.900% dos cursos de doutorado. Todos esses programas de pós-graduação em história são avaliados por uma agência governamental com sede em Brasília: a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, mais conhecida como CAPES.

A avaliação da CAPES acontece a cada quatro anos e gera enorme expectativa entre os membros da comunidade acadêmica, afinal de contas, além de apontar quais são os melhores cursos de pós-graduação em história no país, ela é um instrumento fundamental para distribuir recursos financeiros e oferecer dados que possam contribuir para o desenvolvimento da pesquisa historiográfica nas universidades brasileiras.

Mas como é feita esta avaliação? Que critérios são utilizados? Como se saiu a área de história na avaliação da CAPES? Quais são os melhores cursos? Porque alguns programas de pós-graduação em história foram descredenciados? Para responder essas perguntas, os historiadores Bruno Leal e Pedro Teixeirense entrevistaram o historiador Carlos Fico, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IH/UFRJ) e coordenador da área de História na CAPES entre 2010 e 2018.

Conhecer um pouco mais sobre a avaliação da área de história é uma forma de compreender melhor como funciona a pesquisa científica no país, quais são as suas balizas técnicas e subjetivas, ou ainda, é uma oportunidade para pesquisadores e não-pesquisadores conhecerem melhor algumas das forças que compreendem o ofício do historiador.

Diferente das habituais entrevistas realizadas pelo Café História, publicadas em formato de texto, esta entrevista foi feita e publicada em formato audiovisual. A filmagem ocorreu no dia 21 de setembro de 2018, nas dependências do Hotel Nacional, em Brasília. Confira:


Carlos Fico é bacharel em história pela UFRJ (1983), mestre em história pela UFF (1989), doutor em história pela USP (1996), onde também fez um estágio de pós-doutoramento em 2006/2007. É Professor Titular de História do Brasil da UFRJ e pesquisador do CNPq. Dedica-se ao ensino de teoria e metodologia da história e de história do Brasil republicano e desenvolve pesquisas para a história dos seguintes temas: ditadura militar no Brasil e na Argentina, historiografia brasileira, rebeliões populares no Brasil republicano e história política dos Estados Unidos durante a Guerra Fria. Criou o Centro Nacional de Referência Historiográfica na UFOP, juntamente com Ronald Polito, e coordenou o Programa de Pós-graduação em História Social da UFRJ entre 2002 e 2006. Foi “Cientista do Nosso Estado” da FAPERJ entre 2003 e 2006. Recebeu o Prêmio Sergio Buarque de Holanda de Ensaio Social da Biblioteca Nacional em 2008. Foi o Coordenador da Área de História da Capes entre 7 de abril de 2011 e 31 de março de 2018. Carlos Fico é editor do site Brasil Recente.

Pedro Teixeirense é doutor em História pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com período de doutorado-sanduíche no Institut für soziale Bewegungen – Ruhr Universität Bochum (Alemanha). Na Universidade alemã atuou como Professor Assistente em 2016. É Bacharel e Licenciado em História pela Universidade de Brasília (UnB, 2000). Nessa mesma instituição concluiu o mestrado pelo Programa de Pós-Graduacao em História Social (UnB, 2006). Atuou como professor de Ensino Médio em diversas instituições. Com mais de dez anos de experiência, trabalhou como pesquisador e consultor em organismos públicos e multilaterais. Realizou pesquisas junto ao Senado Federal e avaliações de diversos programas da UNESCO, em especial de projetos relacionados à educação, segurança pública e juventude. Desde 2005, tem atuado como Consultor e Pesquisador em trabalhos sobre história política do Brasil, educação, justiça, cidadania, segurança pública e direitos humanos. Ao longo do ano de 2014, Pedro trabalhou como pesquisador do Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento (PNUD), como Analista de Pesquisa junto à Comissão Nacional da Verdade (CNV). Em 2016, Pedro participou do processo de criação e desenvolvimento do site História da Ditadura. Em 2018, venceu a 4ª Edição do Prêmio de Pesquisa Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional, com o trabalho “A invenção do inimigo: história e memória dos dossiês e contra-dossiês da ditadura militar brasileira (1964-1985)”, resultado de sua tese de doutorado pelo PPGHIS/UFRJ.

Bruno Leal é fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Mestre em Memória Social, Especialista em História Contemporânea, Graduado em História  e Comunicação Social. Foi professor do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF). Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra, com especial ênfase no destino dos criminosos nazistas.  Foi  cocoordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos e Árabes da UFRJ, o NIEJ, entre 2011 e 2018. É membro da Rede Brasileira de História Pública e da Associação das Humanidades Digitais.


Como citar essa entrevista

FICO, Carlos. Um balanço da última gestão da área de história na Capes (Entrevista). Entrevista concedida a Bruno Leal Pastor de Carvalho e Pedro Teixeirense. In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/entrevista-com-carlos-fico/. Publicado em: 2 dez. 2018. Acesso: [informar data].

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

3 Comments

  1. Ótima entrevista. Mesmo para alguns universitários o funcionamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a CAPES, ainda é um mistério. A entrevista permite conhecer um pouco dos critérios elaborados pela agência e suas particularidades. Entrevista elucidativa e bem conduzida.

  2. Como humanizar um coordenador de área da CAPES: fazendo uma boa entrevista. Como estudante de pós-graduação, como docente que passou (rapidamente) por programa de pós-graduação e como sindicalista e militante pela democratização da educação superior tenho críticas à política de desenvolvimento de cursos de pós-graduação (que inclui a instalação, avaliação e manutenção dos mesmos). Um dos fatores que mais critico é o produtivismo. O professor Carlos Fico, coordenador da área de História da CAPES por duas gestões, era para mim a personalização desse mandonismo meritocrático/produtivista. Nesta entrevista o professor desmistifica essa imagem e tece duras críticas aos métodos, formas e critérios de avaliação, ao produtivismo. Não tenho concordância total com sua análise, todavia sua fala ajuda a compreender a complexidade do sistema de educação superior especialmente da pós-graduação. Acho equivocada, por exemplo, a leitura de Fico sobre a importância da CAPES como órgão privilegiado de manutenção da governabilidade (ao lado do Banco Central e do Ministério da Fazenda). Ao menos uma questão fica no ar: um coordenador de área crítico poderia fazer mais para romper com essa lógica, ao invés de reproduzi-la? Vale a assistir à entrevista, um tanto longa

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