Professora utiliza Café História com alunos do Ensino Básico 1
Café História é utilizado em sala de aula por alunos no Espírito Santos. Foto: reprodução autorizada.

Professora utiliza Café História com alunos do Ensino Básico

Professora de Ensino Básico da rede pública do Espírito Santo utiliza Café História em projeto educacional com alunos do Ensino Fundamental. História Digital tem se afirmado como possibilidade didática.
16 de setembro de 2010

Computadores, internet, redes sociais, vídeo-chat, blogs, vídeos: todas ou quase todas essas palavras foram incorporadas ao vocabulário da escola nos últimos anos. A História Digital tem se afirmado nos últimos anos. Muitos professores, no entanto, ainda podem ser perguntar: como utilizar todos esses novos recursos em minha prática docente? Foi pensando nisso que Renata Araújo Machado, professora de historia da rede pública do Espírito santo, elaborou um interessante projeto de história digital que envolve o Café História.

Machado é professora na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professora Hosana Salles, em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo. Durante muito tempo, a docente viu o laboratório de informática de sua escola como um verdadeiro desafio. “A princípio as aulas se resumiam às pesquisas na Internet e algumas situações me frustravam muito. Os alunos que atendemos aqui não tinham nenhuma noção básica de pesquisa sendo comum durante a aula, me perguntarem quantos parágrafos deveriam copiar”, explicou a reportagem do Café História.

Depois de muito bastante sobre a questão, a professora encontrou uma solução criativa:

“Eu já fazia parte do Café História e tive a ideia de cadastrar alguns alunos para ver como interagiam. O resultado foi positivo e eu fiquei muito animada. Falei sobre o assunto com alguns professores e com o corpo pedagógico da escola. Tendo o apoio deles, escrevi o projeto e comecei a cadastrar os alunos”. Foi assim que nasceu o projeto “Tecnologia do Conhecimento”, integrando história e informática na escola Professora Hosana Salles.”

Segundo Machado, o projeto propõe o desenvolvimento e a aplicação de uma nova prática pedagógica, que permite aos alunos não só a inclusão digital, mas também o contato com esta nova tecnologia. Além disso, a utilização das ferramentas interativas e multimídias do Café História tem o objetivo de dinamizar as aulas, inaugurar novos espaços de discussão para temas vistos em sala e, com isso, fazer com que os alunos sejam parte integrante de sua aprendizagem.

O desenvolvimento do projeto é de fácil compreensão, interdisciplinar e flexível. Os alunos participam de duas formas. Primeiro, como qualquer participante da rede: utilizam as ferramentas, personalizam as páginas de perfil e participam das discussões propostas nos vários fóruns, blogs e grupos de estudos da rede. Nos vários perfis criados pelos alunos, por exemplo, é possível ler relatos sobre a visita que a turma fez a uma exposição sobre o cientista Albert Einstein. Uma outra forma de participação se dá no Grupo “Escola “Profª Hosana Salles”, composto basicamente pelos alunos que fazem parte do projeto. Dentro deste grupo, os alunos participam de tópicos de fóruns que dialogam com o conteúdo que é visto dentro de sala de aula. Quem não participa do projeto, mas quer fazer parte do Grupo também pode, o que torna a experiência ainda mais interessante, já que os alunos podem debater um tema visto em sala de aula com pessoas de diferentes lugares, formações e opiniões.

Os alunos

Participam do projeto alunos do Ensino Médio regular, seguido pelos estudantes EJA (Educação de Jovens e Adultos), segundo e terceiro segmento, além de alunos do Ensino Fundamental, da 5ª à 8ª séries. Os alunos parecem ter aprovado a ideia. Michele Mariano, do 3º ano do Ensino Médio Noturno, postou em um dos fóruns de atividade:

“As aulas dadas no laboratório de informática utilizando o Café História estão sendo ótimas. A ideia de usar o espaço foi brilhante, pois assim desenvolvemos mais interesse pela a história, desenvolvemos e ampliamos mais nosso conhecimento. As aulas desenvolvidas já trouxeram grande conhecimento e curiosidade. Dá vontade de, cada vez mais, nos aprofundarmos e de aprender.”

Já Dalila de Fátima Oliveira Daltio, da 8ª série do Ensino Fundamental, Vespertino, postou:

“As aulas são melhores agora, pois além de nos informarmos sobre a matéria, também nos divertimos com essa nova dinâmica de ensino. O Café História nos dá a oportunidade de conhecer novas pessoas de diferentes culturas e modos de pensar, também podemos compartilhar e receber novos conhecimentos sobre a matéria de história, que é tão apreciada e questionada no mundo todo.”

Bem focado, coerente e muito estimulante. Assim poderia ser definido o projeto da professora Renata Machado, da escola Professora Hosana Salles. Um projeto que, uma vez tendo recebido o voto de confiança da coordenação pedagógica e dos alunos, mostrou ser capaz de se tornar um excelente exemplo de como as redes sociais não só apenas uma rede de amigos, de debates ou de informações, mas também uma ferramenta com possibilidades didáticas riquíssimas.

Confira, abaixo, a entrevista que fizemos com Machado:

Professora, como surgiu a ideia do “Tecnologia do Conhecimento”?

Trabalho na Rede Pública Estadual como professora efetiva desde 2005. Há dois anos, na unidade de ensino em que o projeto está sendo desenvolvido. Utilizar o laboratório de informática nas aulas de história era um desafio para mim. A princípio as aulas se resumiam às pesquisas na Internet e algumas situações me frustravam muito. Os alunos que atendemos aqui não tinham nenhuma noção básica de pesquisa sendo comum durante a aula, me perguntarem “quantos parágrafos deveriam copiar”. Pode imaginar como eu me sentia diante dessas situações. Tentei então fazer uma iniciação dos alunos em pesquisa, mas não obtive o resultado esperado. Eles não se interessavam pelas aulas e eu fiquei, ainda mais, frustrada. A partir daí, percebi que eu estava utilizando a internet apenas como fonte de informação, quando o seu grande potencial é a comunicação. Eu já fazia parte do Café História e tive a ideia de cadastrar alguns alunos para ver como interagiam. O resultado foi positivo e eu fiquei muito animada. Falei sobre o assunto com alguns professores e com o corpo pedagógico da escola. Tendo o apoio deles, escrevi o projeto e comecei a cadastrar os alunos.

Qual a sua escola e quantos alunos participam do projeto?

O projeto está sendo desenvolvido na E.E.E.F.M. “Profª Hosana Salles”, em Cachoeiro de Itapemirim – ES.Inicialmente, foram cadastrados apenas os alunos do Ensino Médio regular, seguidos pelos estudantes da EJA (Educação de Jovens e Adultos), do segundo e terceiro segmento e, por último, os alunos do Ensino Fundamental, de 5ª à 8ª séries. A faixa etária dos alunos envolvidos varia entre doze anos para os da 5ª série e cinqüenta anos para os alunos da EJA. Além dos alunos, os demais professores da unidade, tanto da disciplina de História, como de Língua Portuguesa, Geografia e Artes, entre outros, também fizeram o registro na rede para acompanhar as atividades dos alunos e já se preparam para utilizar o espaço do Café História em suas respectivas disciplinas.

Qual o objetivo do projeto?

O Projeto “Tecnologia do conhecimento: integrando História e Informática”, propõe o desenvolvimento e a aplicação de uma nova prática pedagógica, que proporcionará aos alunos não só a inclusão digital e o contato com esta nova tecnologia. Fará com que os alunos sejam parte integrante do seu processo de aprendizagem, da construção do seu próprio conhecimento e das transformações inevitáveis causadas pelo contato com o mundo digital. Visa dinamizar as aulas da disciplina de História no Laboratório de Informática, abrindo espaço para discussões sobre diversos temas relacionados à disciplina através da Rede Social – Café História. Valorizar a produção dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos (textos, fotos, relatos, vídeos, etc.), através da publicação dos mesmos nos espaços específicos do Café. Possibilitar a participação dos alunos nos debates interativos desenvolvidos através da rede, utilizando espaços como o do chat, dos grupos de estudo e dos fóruns de discussão, além de promover o desenvolvimento intelectual do aluno, por meio do contato com outros estudantes e profissionais da área de ciências humanas e demais áreas do conhecimento.

Como o projeto está sendo desenvolvido?

Alguns alunos ainda são leigos na utilização da informática e de espaços interativos como o do Café História, de modo que o projeto conta também com uma etapa de orientação para esses alunos (digitação, cadastro de e-mail, registro na Rede Social – Café História, interpretação do Guia de Navegação da rede, etc.). Enfim, o básico. Já outros são mais autônomos na utilização desses recursos e estão sendo aproveitados no processo de orientação dos demais. É fantástico! Eles interagem dentro e fora das telas do computador durante a aula. Uns ajudam os outros, fazem perguntas, tiram dúvidas, curtem a aula. O projeto acontece, em cada turma, pelo menos uma vez por semana. Uma aula é agendada no Laboratório de Informática para que os alunos possam receber as orientações de como acessar o Café História, como utilizar o espaço, personalizá-lo, adicionar pessoas, grupos, participar das discussões no grupo criado para a escola, postar as fotos observando-se os conteúdos e as informações nas legendas das mesmas, postar textos no blog do Café. Estão aprendendo, para que servem e como devem ser utilizados os espaços da rede. Os que têm acesso à internet, também fora da escola interagem mais na rede social. Eles já desenvolveram as primeiras atividades no grupo da escola e em seus perfis como postagem de fotos e textos sobre a visita à Exposição Internacional de Einstein em Vitória – ES, por exemplo. Posteriormente, serão orientados a participar de discussões mais específicas sobre os conteúdos trabalhados em sala de aula, não só na disciplina de História como nas demais. No entanto, não quero limitá-los a cumprir apenas aquilo que os professores orientam. Quero prepará-los para que sejam capazes de fazer suas próprias escolhas dentro da rede. Adicionar os grupos de sua preferência e participar das discussões que considerem mais relevantes por si mesmos. Seria muito bom ver isso acontecendo. Espero que seja em breve.

Quanto tempo vai durar a experiência pedagógica? Outros professores sabem? Há apoio da coordenação pedagógica da escola?

A equipe escolar, de maneira geral, recebeu com carinho o projeto. Aos poucos os professores estão se familiarizando com a proposta, fazendo o registro na rede, acompanhando o desenvolvimento das atividades e incentivando os alunos. Alguns já orientam atividades. Quanto à duração do projeto, não existe uma previsão para finalizá-lo, já que a expectativa para essa experiência pedagógica é boa, mas imagino que ela se prolongue por um bom tempo. O que existe, na verdade, é um cronograma que pretendemos cumprir até o final desse segundo semestre e alguns planos para o próximo ano. Esperamos alcançar todos os alunos envolvidos no projeto com o desenvolvimento das habilidades necessárias para o manuseio do computador no tocante à utilização do espaço da Rede Social do Café História, do usuário leigo ao mais avançado, até o fim do semestre. Para o próximo ano, estamos discutindo a possibilidade de cadastrar também os pais dos alunos na rede. O fato é que alguns pais procuraram a escola preocupados porque, na opinião deles, os alunos principalmente da 5ª e 6ª série, são muito novos para utilizarem redes sociais. Essa preocupação foi sanada com a apresentação do projeto aos pais, que passaram a apoiar a iniciativa. Sendo assim, já observamos o quanto pode ser interessantes unir no espaço do Café História, os três pilares que sustentam o funcionamento da nossa unidade de ensino: Escola – Alunos – Família.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

Deixe um comentário

Your email address will not be published.

Don't Miss