Historiador publica ensaio em que analisa produção historiográfica sobre a Ditadura Militar no Brasil

2 de junho de 2017
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Publicado na revista “Tempo & Argumento”, texto de fôlego do historiador Carlos Fico pode ser baixado gratuitamente.

Por Bruno Leal | Agência Café História

O historiador Carlos Fico (UFRJ) acaba de publicar na revista “Tempo & Argumento” um ensaio de 70 páginas no qual faz um balanço crítico sobre conceitos, querelas e obras que compõem a produção historiográfica sobre a ditadura militar no Brasil. “Ditadura militar brasileira: aproximações teóricas e historiográficas” inscreve-se em um gênero ainda não tão comum no Brasil, o da “crítica teórica e historiográfica”.

Soldados - Ditadura Militar
Nos últimos anos, muitos novos trabalhos sobre a Ditadura Militar foram publicados no Brasil, sobretudo em 2014, quando o golpe de 1964 completou 50 anos. Foto: Policiais em manifestação no Rio de Janeiro em 1968. Arquivo Nacional, Correio da Manhã, PH FOT 00229.410. Memórias Reveladas.

De acordo com o autor, o artigo “pretende identificar algumas das mais relevantes obras sobre a ditadura militar, recentes ou não, para discutir as seguintes questões teórico-conceituais e historiográficas que têm vindo à tona ultimamente: 1) a acusação de revisionismo feita por historiadores marxistas a pesquisadores que 1.1) tacham Joao Goulart de golpista, 1.2) questionam o caráter democrático da esquerda nos anos 1960, 1.3) lançam mão do conceito de cultura política e 1.4) não utilizam o conceito de classe social; 2) os problemas contidos na crítica originalmente feita por Daniel Aarão Reis Filho à memória confortável sobre a ‘luta armada’; 3) a importância da noção de retroalimentação entre ‘luta armada’ e repressão para se compreender a diferença existente entre a inserção dos quadros organizados e dos simpatizantes nas ações armadas; 4) o debate sobre a denominação e a periodização do golpe e do regime e 5) o meu entendimento sobre a saída da ditadura como projeto de longa duração e maturação pouco influenciado pelos setores de oposição ao regime.”

Em post público em seu perfil no Facebook, o historiador comentou o lançamento:

– As pesquisas arquivísticas sobre a ditadura avançaram, mas a reflexão teórico-conceitual regrediu. Polêmicas supérfluas (apoio civil), nominalistas (ditadura militar ou civil-militar?), mal formuladas (novas periodizações, deslocamento de sentido) ou irrelevantes (revisionismo, caráter de classe) dificultam debates necessários. Neste longo ensaio (“Ditadura militar brasileira: aproximações teóricas e historiográficas”), abordo essas questões e temas que me parecem fundamentais, como a moldura institucional da ditadura militar, o tema tabu do recrutamento de estudantes para a luta armada e a transição controlada pelos militares. É meu artigo mais crítico ou polêmico. Escrevi nas férias. Tempo & Argumento aceitou publicar.

Para baixar o artigo de Carlos Fico na íntegra, clique aqui. O download é gratuito. A revista “Tempo & Argumento” possui avaliação A2 da CAPES em História e é uma publicação do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Conheça outros artigos publicados em seu novo número aqui.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

3 Comments

  1. Carlos Fico é um grande historiador. Rigoroso, crítico, desconfiado, autocrítico. Como diria minha mãe: nasceu para o que faz. Digo isso porque nem todo mundo que pesquisa leva jeito para o métier escolhido, embora formado e até doutor. Mas a vida é assim, nem todo músico é Beethoven. Carlos Fico, no panorama brasileiro, e mais especificamente sobre a produção historiográfica voltada para o estudo da ditadura militar no Brasil, é um pesquisador necessário. Mesmo que, eventualmente, não se concorde com ele em alguma tópico (e é bom e normal que isso ocorra) deve ser lido com seriedade pois é um dos poucos que ainda produz pesquisa honesta, séria, sem concessões, crítica de verdade, e não panfletos decalcados de queremismos extemporâneos ou mera “confirmação” do que se gostaria que fosse. Vem em boa hora o referido artigo. Boa dica, Café História!

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