Para cientistas, conhecer letras e fonemas não garante alfabetização adequada de crianças

Pesquisa acompanhou estudantes e percebeu dificuldades no aprendizado por método fônico. O método fônico ensina sons de cada letra para ajudar na construção de palavras. Especialistas recomendam busca por modos de ensino alternativos.
3 de abril de 2020
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Método de alfabetização é questionado por pesquisadores. Foto: MARIA LAURA SARAIVA / REVISTA ESQUINAS/FLICKR.
Método de alfabetização é questionado por pesquisadores. Foto: MARIA LAURA SARAIVA / REVISTA ESQUINAS/FLICKR.

Após acompanhar 20 crianças de duas escolas da rede pública do Recife (PE) ao longo do primeiro ano do Ensino Fundamental, pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) observaram que 70% delas ainda não conseguiam ler e escrever palavras de forma espontânea ao final das aulas. Os resultados do estudo foram publicados em janeiro, na publicação científica “Educação em Revista”.

Para os pesquisadores, isso se deve à inadequação do método fônico imposto pela rede de ensino, que prioriza o treino isolado da pronúncia de fonemas para a aprendizagem da leitura e escrita em português – o famoso “beabá”. “Nossas análises atestaram que as crianças tiveram dificuldade em responder diversas tarefas de consciência fonêmica que psicólogos e autores de livros didáticos vêm tratando como requisitos para a apropriação do sistema de escrita alfabética”, conta Silvia de Sousa Azevedo Aragão, doutoranda do Centro de Educação da UFPE.

Busca por métodos alternativos é necessária

As 20 crianças foram submetidas a nove tarefas de consciência fonêmica, que testam a capacidade de dividir e reorganizar sons individuais dentro de palavras, e três de leitura de palavras, frases e textos. Na maior parte das atividades fonêmicas, o desempenho médio foi inferior ou igual a 60%. Ao lerem, apresentaram bom desempenho apenas na leitura de palavras, correlacionada a poucas habilidades de consciência fonêmica.

Ao final do primeiro ano, já escrevendo e lendo palavras em função de terem dominado várias letras, elas continuavam com um rendimento médio inferior a 50% em quatro das nove tarefas de consciência fonêmica: sintetizar fonemas para formar palavras (48,75% de acertos); produzir palavras com o mesmo fonema inicial (47,5% de acertos); subtrair fonemas em início de palavras (também 47.5% de acertos); e segmentar palavras em fonemas (apenas 17,5% de acertos). Para todos, apenas uma tarefa foi “muito fácil”: a identificação de palavras com o mesmo fonema inicial, na qual apresentaram rendimento médio um pouco superior a 80% de acertos.

Para Aragão, os achados podem contribuir para reflexões sobre novas alternativas pedagógicas. “É urgente um debate a respeito de quais habilidades fazem sentido ser promovidas na escola, desde a educação infantil, para ajudarmos todas as crianças, independentemente de sua origem sociocultural, a compreender o princípio alfabético e a se apropriar da língua portuguesa. Não é razoável ‘torturar’ crianças fazendo com que elas pronunciem à exaustão os fonemas isolados de cada palavra, adicionando ou subtraindo fonemas, por exemplo.” Como alternativa, a pesquisadora sugere atividades lúdicas, envolvendo jogos ou cantigas, e outros textos poéticos da tradição oral.

Fonte: Agência Bori

Agência Bori

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16 Comments

  1. A conscientização dos fonemas se faz necessário, porém cada fase da alfabetização requer do alfabetizador um tipo de método, como o alfabético, silábico, de palavracão, de sentenciacão e com textos como parlendas por exemplo.Leituras de livros de histórias diariamente,e caixa de gêneros textuais assim como cartazes com banco de palavras e textos para leitura diária.O manuseio de fichas com palavras e frases para leitura além de jogos proporcionarão oportunidade de alfabetização em leitura, escrita e interpretação de qualquer criança independentemente no nível social à qual ela pertença.
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  2. É sério que ainda se force crianças a repetirem a exaustão fonemas isolados e sem significado???? Alguém aí já ouviu falar em aprendizagem significativa???? Que matéria triste!!!

  3. Tão de brincadeira, 20 crianças de 2 colégios, fundamenta tal pesquisa “científica”?. O que vcs dizem de minha filha, com apenas três anos já ler palavras simples, conhece todas as cores, possui noção de espaço e tamanho. Detalhe,empregamos o método tradicional. Estou a disposição para provar através de vídeo caso desejem.

    • Mesmo, sério
      Meu filho também passou por esse processo
      No entanto, agora vejo que pulei etapas em seu desenvolvimento
      Prefiro que as crianças sejam estimuladas a aprender dentro dos parâmetros curriculares
      Ou seja, não é errado alfabetização nessa idade, mas como isso afeta em deu desenvolvimento é necessário muiita cautela.

  4. Conhecer as letras não asseguram aos alunos uma leitura fluente: É verdade, trabalho com crianças do fundamental I e entendi que a consciência fonética é de extrema importância,para que o aluno aprenda, desenvolva e domine a leitura fluente. Dentro do que é considerado normal, pois, por vários anos recebi alunos no 4o e 5o ano que conheciam todas as letras do alfabeto e a sequência numérica, copiavam qualquer coisa da lousa ou dos livros didático, mas não conseguiam ler. Então meu foco nesse inicio de aula era o colocar próximo ao nível da maioria dos alunos que faziam parte daquel sala, era fazê-los ouvir os sons de cada vogal, ao construir palavras com o alfabeto móvel, e sentir de que lugar de seu aparelho fonador saia aquele son. Fazia os repetir a palavra prestando a atenção e até sentindo com o tato, seu pescoço, uma por uma das letras “a”,”e”,”i”,”o”,”u todas as vogais que são a sonoridade. É todos dias aplicava ditados, ora de palavras, ora de frases e depois de pequenos textos. Em março eles já estavam lendo e escrevendo palavras com sílabas simples, com o mínimo de erros, daí em diante, iam sozinho, sem que me preocupasse tanto com eles. É ficavam encantados quando liam e as pessoas entendiam o que estavam lendo. Percebi que não davam a tenção necessária para o processo ensino aprendizagem. Queria ler mais não sabiam como, o que lhes frustavam a cada dia quando haviam leituras, achavam uma maneira de não fazer parte daquele monumento, até aprontando para irem para diretoria. No início mandava os depois. Mesmo tendo aprontado umas e outras mantinhas os em sala. Viam superficialmente o que deveriam vê a fundo. A falta de maturidade escolar era outro fator que agregam a possível “dificuldade” gerando também o desinterce.

  5. Conhecer as letras não asseguram aos alunos uma leitura fluente: É verdade, trabalho com crianças do fundamental I e entendi que a consciência fonética é de extrema importância,para que o aluno aprenda, desenvolva e domine a leitura fluente. Dentro do que é considerado normal, pois, por vários anos recebi alunos no 4o e 5o ano que conheciam todas as letras do alfabeto e a sequência numérica, copiavam qualquer coisa da lousa ou dos livros didático, mas não conseguiam ler. Então meu foco nesse inicio de aula era o colocar próximo ao nível da maioria dos alunos que faziam parte daquela sala, era fazê-los ouvir os sons de cada vogal, ao construir palavras utilizando o alfabeto móvel, e sentir de que lugar de seu aparelho fonador saia aquele son. Fazia os repetir a palavra prestando a devida atenção e até sentindo com o tato, seu pescoço, uma por uma das letras “a”,”e”,”i”,”o”,”u todas as vogais que são a sonoridade das palavras. E todos dias aplicava ditados, ora de palavras, ora de frases e depois de pequenos textos. Em março eles já estavam lendo e escrevendo palavras com sílabas simples, com o mínimo de erros, daí em diante, iam sozinho, sem que me preocupasse tanto com eles. E ficavam encantados quando liam e as pessoas entendiam o que estavam lendo. Percebi que não davam a tenção necessária para o processo ensino aprendizagem. Queria ler mais não sabiam como, o que lhes frustavam a cada dia, quando haviam leituras, achavam uma maneira de não fazerem parte daquele monumento, até aprontando, para irem para diretoria. No início mandava os. Depois mesmo tendo aprontado umas e outras, mantinhas os em sala. Viam as coisa superficialmente o que deveriam vê a fundo. A falta de maturidade escolar era outro fator que agregam a possível “dificuldade” gerando também o desinterce deles pela leitura.

  6. Como você vai alfabetizar uma criança colocando a sua frente cantigas e parlendas ? Sinto dizer mas ela se sente perdida em meio a tantas palavras desconhecidas

  7. Sou professora alfabetizadora e digo com propriedade antes mesmo do ministério da educação trazer essa proposta eu já aplicava em sala de aula.Sempre deram bons resultados.

    • Obrigado pelo comentário, Rose. Ficamos super contentes em saber que alfabetizadores estão aqui conosco no Café História. Uma pergunte se você nos permite: como você descobriu está notícia nossa? Registramos um número alto de acessos, mas não conseguimos localizar o motivo. Abraço!

  8. Cientistas? Como será que eles foram alfabetizados?
    Quanto mais cedo a criança tem a consciência fonética mas o seu cognitivo é ativado. Eu contesto esses cientistas com provas reais e palpáveis, pegar 20 crianças que podem ter tido uma alfabetização falha e querer tirar como parâmetro não condiz com a realidade sabemos que sim há erros e falhas no processo de alfabetização mas não se chega ao topo da escada sem passar pelo primeiro degrau.

  9. Que a Alfabetização deve ser pautada em base científica, isso é indiscutível. Submeter crianças do século XXI ao Método Tradicional, utilizado no século XIX é ignorar o desenvolvimento global ocorrido neste longo período. O tipo de ensino ofertado deve ser coerente ao tempo histórico em que vivemos. Uma das maiores tendências da educação para o século XXI é o Ensino Híbrido que está totalmente na contramão do ensino tradicional. Parafraseando Celson Vasconcelos: “NÁO É ISTO OU AQUILO, É ISTO E AQUILO”. Devemos lançar mão de vários métodos de alfabetização, mesclando o que cada um tem de melhor para cada tipo de aluno. Independente do método, uma criança para ser alfabetizada de forma a ler com fluência ao final do Primeiro Ano, precisa desenvolver sua consciência fonológica. A partir do momento em que ela consegue perceber que as palavras são formadas por sequências sonoras diferentes, conseguindo manipular estes sons na palavra e tendo consciência de que escrevemos registrando os sons, a alfabetização ocorrerá de forma eficaz e muito tranquila. Os poemas, quadrinhas, cantigas, parlendas são de grande relevância no desenvolvimento deste trabalho.
    Leonice Ramalho – Professora de Alfabetização Inicial

  10. Fazendo a leitura dos comentários percebo ainda que tem muita gente ainda em pleno século XXI adotando o método tradicional nas escolas,entendo que o professor não deve ficar preso somente a um método, mais no início da alfabetização é fundamental que as crianças façam relação entre grafemas e fonemas e adquiram essa conscientização para despertar a leitura das palavras e possíveis textos.

  11. Ou seja, não ocorreu de fato o ensino do método fônico. Nos testes as crianças tiveram rendimentos inferiores em competências que são profundamente estudadas no método fônico. Cuidado com esses especialistas. Aprendam sobre o método fônico de fato. Pq com essas narrativas tentarão colocar o método como fraco. Pois o que aí está apenas qualificou como fluente no português apenas 8% da população brasileira.

    • E alfabetização é diferente de letramento. Parece que professores e especialistas precisam voltar ao be-a-ba. Querem que a criança, ainda adquirindo consciência fonêmica e fonológica já tenha capacidade para usar a escrita socialmente. Como exemplo, ensinam a criança a escrever o próprio nome sem a criança antes compreender aliteração, rima, Segmentação de sílabas e fonemas etc. Ou seja, a criança decora o nome e não aprende de fato a lê-lo. O que não falta são estudos comparando a eficacia do método fônico em relação ao método global/construtivista.
      https://metodofonico.com.br/cientista-comprova-ineficacia-do-metodo-global-ou-construtivista/

      • Falou, tudo! O problema é que nem esses que se dizem especialistas nessas universidades federais Capengas do Brasil sabem ler, quanto mais interpretar um texto corretamente, o que eles sabem bem é distorcer o sentido de uma leitura e criar 1001 narrativas para convencer que esse é o melhor método para terminar de afundar na alfabetização dos outros!

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