Livro que refuta lendas e mentiras sobre a história dos Estados Unidos chega ao topo dos mais vendidos

Historiadores refutam narrativas que retratam o New Deal como fracasso, imigrantes como invasores hostis e feministas como guerreiras antifamília, dentre outras fakenews históricas.
17 de fevereiro de 2023
Livro que refuta lendas e mentiras sobre a história dos Estados Unidos chega ao topo dos mais vendidos 1

Embora lançado há pouco mais de um mês, no dia 3 de janeiro, o livro Myth America: Historians Take on the Biggest Legends and Lies about Our Past (“Myth America: Historiadores enfrentam as maiores lendas e mentiras sobre nosso passado”, em tradução livre para o português) chegou à lista dos livros mais vendidos do jornal The New York Times. O livro é publicado pela Basic Books e organizado por dois historiadores, Kevin M. Kruse e Julian E. Zelier, ambos professores da Universidade de Princeton.

Na obra, Kruse, Zelier e muitos outros historiadores e historiadoras profissionais contestam narrativas equivocadas e mal-intencionadas sobre a história dos Estados Unidos. Boa parte dessas distorções são usos políticos do passado promovidas pela mídia conservadora, levando muitas pessoas a acreditar em ideias fantasiosas e até mesmo preconceituosas. Para os autores, isso representa uma ameaça não só a construção da cidadania, mas uma grande ameaça para a democracia.   

Os ensaios abrangem uma ampla variedade de tópicos, desde o período colonial até a Guerra Fria, incluindo eventos como a Revolução Americana, a escravidão e a Guerra do Vietnã. Os autores desafiam muitas das ideias preconcebidas sobre esses eventos e examinam de perto as fontes históricas para desconstruir essas narrativas.

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Mídia conservadora ajudou a propagar mitos e mentiras sobre o passado dos Estados Unidos. Imagem: Midjourney.

Entre as narrativas contestadas no livro estão, por exemplo, o mito da “fronteira fechada”, que afirma que a fronteira americana foi uma oportunidade igualitária para todos os americanos, quando, na verdade, a conquista do oeste foi muitas vezes violenta e desigual; a ideia de que a escravidão era uma instituição benevolente e paternalista, em vez de um sistema brutal de opressão; e a crença de que a Guerra do Vietnã foi uma batalha nobre contra o comunismo, em vez de um conflito militar desnecessário e mal planejado pelas autoridades. Os historiadores também refutam narrativas que descrevem o New Deal (década de 1930) como um projeto econômico fracassado, imigrantes como invasores hostis e feministas como destruidoras da família estadunidense.

“Os colaboradores de Myth America visam desconstruir mentiras que são a força vital dos mitos que dominam a cultura e a política americanas hoje. Este livro é um trabalho coletivo de coragem em uma época em que ‘verdade’ e ‘fato’ foram conceitos amplamente abusados; se acreditarmos em nosso ofício como historiadores públicos e jornalistas, Kevin Kruse e Julian Zelizer nos mostrarão o caminho”, escreveu Frederick Douglass, autor vencedor do prêmio Pulizer.

Em entrevista para a revista InsideHook, Kruse destacou a intenção do livro de chegar ao maior número possível de leitores: “às vezes, os historiadores conversam entre si na torre de marfim. Mas este é um grupo de grandes escritores que escrevem para o público. Portanto, esperamos que seja acessível a um público amplo”.

Entre os colaboradores do livro estão: Akhil Reed Amar – Kathleen Belew – Carol Anderson – Kevin Kruse – Erika Lee – Daniel Immerwahr – Elizabeth Hinton – Naomi Oreskes – Erik M. Conway – Ari Kelman – Geraldo Cadava – David A. Bell – Joshua Zeitz – Sarah Churchwell – Michael Kazin – Karen L. Cox – Eric Rauchway – Glenda Gilmore – Natalia Mehlman Petrzela – Lawrence B. Glickman – Julian E. Zelizer.

Embora Myth America ainda não tenha sido lançado no Brasil, é possível adquirir a versão e-book na Amazon brasileira por um preço bastante razoável: R$ 51,65.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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