História para Historiadores: regulamentando a profissão

História, Historiador, profissão. Entrevistamos o Senador Paulo Paim (PT - RS), autor do projeto de lei que busca regulamentar a profissão de historiador no país.
18 de novembro de 2010
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Paulo Paim
Paulo Paim é Senador pelo Partido dos Trabalhadores, Rio Grande do Sul.

Ele não é historiador, mas o seu trabalho está prestes a mudar o estatuto de milhares de historiadores brasileiros. O Senador Paulo Paim é o criador do projeto original que propõe regulamentar a profissão de historiador no Brasil.

Para alguns profissionais, a regulamentação é positiva, pré-requisito para a valorização da profissão no mercado de trabalho, que virtualmente não existe em concursos e cargos oficiais. Para outros, no entanto, a regulamentação pode em alguma medida excluir aqueles que não possuem formação na área de História. Um tema, como se percebe, tão importante quanto polêmico.

Paulo Paim nasceu em 15 de março de 1950, em Caxias do Sul. É metalúrgico formado pelo SENAI. Foi deputado federal de 1987 a 2002. Desde 2003 é senador, eleito no pleito de outubro de 2002 pelo PT, com 2.102.904 votos (19,07% dos votos válidos), pelo estado do Rio Grande do Sul. É filiado ao Partido dos Trabalhadores.

Senador, antes de tudo muito obrigado por conversar com o Café História. Seu projeto de lei para regulamentar a profissão de historiador no Brasil tem suscitado muitos debates na comunidade de historiadores. Como e por que surgiu essa ideia?

Sou eu quem agradece a oportunidade de conversar com vocês neste espaço. Sobre a pergunta, o projeto nasceu das inúmeras reivindicações da categoria. Consideramos o pedido justo, afinal, os profissionais da área precisam ter seus direitos reconhecidos. Mais que isso, reconhecer e regulamentar a profissão é mostrar aos historiadores que o país valoriza o trabalho e os profissionais.

O que falta para que o projeto de lei seja totalmente aprovado? Quanto tempo isso deve demorar? Ainda há possibilidade de alteração do texto?

Para que a matéria vire lei, é necessário que a Câmara vote e aprove a matéria da forma como saiu aqui do Senado. Se houver alteração na Câmara, a matéria retorna ao Senado. Infelizmente, não podemos prever o tempo de tramitação, pois isso dependerá da tramitação na Câmara. Nesse ponto digo sempre que o rufar dos tambores nas ruas deve se fazer ouvir aqui no Congresso. Pressionar é sempre um bom caminho.

Senador, qual a opinião de seus colegas senadores sobre esse projeto de lei? Quais deles estão mais empenhados na defesa dessa “causa”?

A aprovação da matéria, por unanimidade, demonstra que todos os senadores são favoráveis a nossa proposta. Foi um trabalho coletivo. Eu sou o autor e o relator é o senador Cristovam Buarque.

Alguns pesquisadores autônomos e pesquisadores de áreas correlatas temem que a lei possa vir a ser prejudicial aos não portadores de diploma em História. Isso é verdade?

O reconhecimento da profissão vai exigir que as pessoas tenham diploma. Espero que a iniciativa não venha a trazer prejuízo para os pesquisadores que se debruçam sobre a História.

Como evitar que a regulamentação da profissão priorize regras, normas e pré-condições, deixando em segundo plano aquilo que é primordial na pesquisa histórica, ou seja, o livre exercício crítico e a ética na pesquisa?

As normas e regras devem existir para que haja organização e eficiência no trabalho. Com certeza, o equilíbrio é a receita. Acredito que bem equalizados, estes itens só contribuirão para que o exercício crítico e a ética sejam sempre a prioridade na pesquisa histórica.

A regulamentação da profissão pode ser um primeiro passo para a constituição de um Conselho Regional ou Nacional de História? Qual o impacto da aprovação dessa lei para os cursos de Ensino Superior em História?

Certamente pode vir a ser a primeira de muitas conquistas para a área. Acredito que a partir da regulamentação haverá mais procura pelos cursos, sem falar na questão da valorização dos cursos e dos profissionais.

Professora de História
Sala de aula: espaço de atuação de professores e professoras de história.

Senador, conforme vimos nos últimos anos, a regulamentação de profissões no Brasil vem provocando grandes celeumas. Enquanto busca-se regulamentar a profissão de historiador, os jornalistas, por exemplo, veem a sua profissão passar grandes mudanças, como a queda da obrigatoriedade do diploma do Ensino Superior. Qual a sua opinião sobre essa exigência para o exercício do jornalismo?

Acredito que é necessário aprovarmos a regulamentação da profissão de jornalistas. É preciso que se entenda que há uma diferença entre escrever bem e ser um bom jornalista. Além do mais, a não regulamentação da profissão, a meu ver, faz com que o jornalismo brasileiro perca muito no aspecto de independência e investigação. Os profissionais, por sua vez, precisam ter respeitado o fato de que se prepararam para atuar.

O senhor acredita ainda na regulamentação de outras profissões? Quais?

Sim. Acredito. É preciso termos claro que regulamentar profissões é garantir direitos para os trabalhadores. Por isso, sou a favor de diversas categorias. De minha autoria, por exemplo, apresentei a regulamentação dos profissionais da educação física, dos comerciários, motoristas, ortoptistas.

A regulamentação da profissão certamente vai ajudar a criar novos postos de trabalhos e estabilidade para os profissionais da área. Mas será que, no futuro, a História pode ser alvo de delimitações que tenham motivações políticas e não acadêmicas ou intelectuais?

Não sabemos exatamente o que poderá acontecer no futuro, mas a responsabilidade do legislador é estar à frente do seu tempo. Cumpri com o meu dever olhando para o presente e apostando num futuro diferente. Se ficarmos paralisados que futuro teremos? A regulamentação da profissão é um marco e é responsabilidade de todos os profissionais da área ocupar este espaço que é naturalmente seu.

Senador, muitos leitores e associados do Café História receberam com entusiasmo a aprovação do seu projeto na Comissão de Assuntos Sociais do Senado. O que o senhor poderia dizer a esses mais de 19 mil estudantes, pesquisadores e professores de História?

Em primeiro lugar parabenizo a todos por terem conquistado essa vitória, afinal, ela não é minha, mas de cada um vocês. Em segundo, quero que saibam que me alegra ver a luta de vocês que escolheram essa belíssima profissão. Nosso país precisa, cada vez mais, de pessoas que se interessem pela área, pois apenas quem conhece o rumo dos acontecimentos pode olhar para o futuro e nos auxiliar a trilhar um belo caminho. Por isso, mais uma vez, parabéns a todos sejam estudantes, pesquisadores e professores. Sei que o caminho que vocês escolheram nem sempre é o mais fácil, mas certamente é um dos mais importantes e belos para a História de nossa gente. Tenho certeza que a felicidade de vocês é também a minha. Quando o coração de vocês bater mais forte com a conquista alcançada, podem ter certeza que o meu explodirá de satisfação. Abraços a todos.

Como citar esta entrevista

PAIM, Paulo. História para Historiadores: regulamentando a profissão (Entrevista). Entrevista concedida a Bruno Leal Pastor de Carvalho. In: Café História. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/historia-para-historiadores/.  ISSN: 2674-5917. Publicado em: 18 nov. 2010.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

1 Comment

  1. parabéns pela iniciativa, senador. espero e desejo que seja aprovada seu projeto. acredito que essa alegria não é só minha, mas de vários companheiros da área. obrigado.

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