O ensaio fotográfico que evidencia os mortos e desaparecidos durante ditaduras

5 de abril de 2019
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“Ausências” reencena fotografias de famílias que perderam entes queridos durante governo autoritários na América do Sul.

Bruno Leal | Agência Café História

Entre 2006 e 2016, o fotógrafo argentino Gustavo Germano desenvolveu um projeto chamado “Ausências”, que reencena fotografias do passado para evidenciar famílias que perderam entes queridos durante as ditaduras militares na Argentina, no Brasil e no Uruguai. As fotografias do passado são colocadas lado a lado com fotografias do presente, evidenciado a ausência de pessoas que estavam no primeiro registro, mas não mais no segundo. Clique aqui para conferir o portfólio completo do artista.

O projeto de Germano tem alcançado desde seu lançamento uma ampla repercussão na mídia jornalística na, Argentina, Chile, França, Itália, Alemanha, Brasil, Colômbia (e Uruguai, dentre outros países, sendo amplamente difundido, espontaneamente, por meio de cadeias de e-mails e páginas na internet. Atualmente, o material tem mais de 50.000 resultados diretos no Google e uma circulação significativa nas redes sociais.

Ditadura Militar segundo Gustavo Germano
Na fotografia antiga (1969), Gistavo, Guillermo, Diego e Eduardo Germano; na nova fotografia (2006), a ausência de Eduardo. Foto: Gustavo Germano

O projeto Ausências, que trabalha claramente com o tema dos desaparecidos políticos, foi publicado em revistas internacionais como a UNESCO Courier e a Anistia Internacional e nas revistas de fotografia Eyemagazing, Filter e Materia Sensible.

Germano também tem sido objeto de estudos, como é o caso do artigo “Entre o afetivo e o político: o ensaio Ausências, de Gustavo Germano, como reconfigurador das memórias da ditadura”, de Ana Carolina Lima Santos e Michel de Oliveira.

“Conceitualmente, a proposta de Germano se contrapõe aos retratos das lápides de cemitério, pois enquanto os registros lá colocados se apresentam como atestado de existência, funcionando como perpetuação ou sobrevida da lembrança de um ser, os dípticos do artista denunciam a ausência e demonstram a morte e o desaparecimento dos indivíduos que se ocultam em um dos dípticos e fazem com que o espectador tome conhecimento, imaginativamente, sobre o seu fim. Ao fazer essa denúncia, que é tanto afetiva quanto política, tanto privada quanto pública, tanto individual quanto coletiva, há algo que parece se sobrepor como marca do trabalho: a partir das ambivalências e tensões entre forças opostas, Germano consegue expor a essência de um real infotografável, como se o que realmente importasse fosse tudo o que não está na imagem, mas que se evoca a partir dela, no âmbito da imaginação”, escrevem Santos e Oliveira no artigo.

Como citar essa notícia

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. O ensaio fotográfico que evidencia os mortos e desaparecidos durante ditaduras (notícia). In: Café História – História feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/ensaio-gustavo-germano-ditadura-militar/. Publicado em: 5 abr. 2019.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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