Sociólogo conta a história da “Revolta dos Malês” em livro gratuito

Um dos objetivos principais dos escravizados era tomar a cidade, obter liberdade religiosa e derrubar o regime de escravidão.
30 de abril de 2023
Sociólogo conta a história da "Revolta dos Malês" em livro gratuito 1
Livro digital pode ser baixado gratuitamente. Foto: reprodução.

Era madrugada do dia 25 de janeiro de 1835 quando estourou, na Bahia, a chamada “Revolta dos Malês”, uma insurreição inédita feita por escravizados, a maioria muçulmanos e de origem africana. Um dos objetivos principais dos escravizados era tomar a cidade, obter liberdade religiosa e derrubar o regime de escravidão. A revolta foi massacrada, mas o episódio foi histórico, assustou senhores em toda a América do Sul e teve muitos significados políticos que perduram até hoje.

A incrível história dos “Malês” já foi tema de muitos artigos, livros e filmes, mas agora pode ser conhecida gratuitamente. A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco disponibilizou gratuitamente na internet o livro “Malês 1835: negra utopia”, do sociólogo Fábio Nogueira. O livro está disponível em dois formatos digitais: Mobi e PDF. Não é preciso preencher formulários para baixar.

A Revolta dos Malês 

Em 1835, o Brasil vivia uma monarquia escravocrata. A cidade de Salvador tinha cerca de metade de sua população composta por negros escravizados ou libertos. Na região dos engenhos de açúcar, o Recôncavo, o número de escravizados chegava a 80% da população. Essas pessoas tinham origens diversas no continente africano, mas todos pagavam caro pela manutenção de suas tradições culturais e religiosas. A repressão, a censura e até mesmo a morte estava constantemente no horizonte. Dois desses grupos de Salvador praticavam o islamismo, os haussas e os nagôs, ambos alfabetizados, e foram eles que protagonizaram a insurreição que entrou para a História.

“A Revolta dos Malês é o mais importante levante urbano de negros do país e, portanto, um dos principais momentos da resistência negra contra o escravismo. Foi protagonizada por escravos anônimos numa sociedade excludente e racista, onde a presença africana era ao mesmo tempo desprezada e temida. Eram pessoas que carregavam em suas mentes e corações as experiências de viver em um continente rico e próspero, que começava a ser devastado por guerras e conflitos para atender aos interesses das elites locais e coloniais”, aponta Nogueira.

Fábio Nogueira é Doutor em Sociologia (USP) e Professor Adjunto da UNEB (Universidade do Estado da Bahia). Publicou Clóvis Moura: trajetória intelectual, práxis e resistência negra (Eduneb, 2015) e Malês (1835): Negra Utopia (Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, 2019), além de diversos artigos sobre a temática racial no Brasil e no Caribe.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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