Documentário examina trajetória de feminista e educadora perseguida pelo regime Vargas

26 de maio de 2017
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“Armanda” conta a história da fundadora da escola que em 1921 foi a primeira do país a servir alimentação aos estudantes. Perseguida pelo Estado Novo, ela foi presa ao lado de Nise da Silveira e Olga Benário.

Por Ana Paula Tavares | Agência Café História

[Atualizada em 27 de maio, 2:02]

Dirigido por Liliane Leroux e Rodrigo Dutra, o documentário “Armanda” estreia dia 31 de maio, às 20h, no III Festival Mate com Angu de Cinema Popular. O média-metragem aborda a trajetória de Armanda Álvaro Alberto, que além de criar uma escola no subúrbio do Rio de Janeiro, fundou também a Associação Brasileira de Educação (ABE) e a União Feminina do Brasil (UFB).

Documentário Armanda
Documentário recupera trajetória de importante educadora.

A Escola Proletária de Meriti, fundada em 1921, foi bastante associada ao método pedagógico de Maria Montessori. Pesquisas recentes, no entanto, como a do historiador Júlio César Paixão, mostram que havia certa mitificação dessa influência. [1] Segundo sublinhou Paixão ao Café História “o estilo de pensamento daqueles que colaboravam e construíam a escola era muito eclético. Cabia desde princípios pedagógicos liberais – educação ativa de diversos tipos –, passando por propostas de modernização conservadora do movimento sanitarista, até a visão eugenista de Renato Khel”.

O projeto da escola previa  horário integral; ela possuía biblioteca e introduziu a merenda escolar no país – o que lhe rendeu o apelido “Mate com Angu”, nome popular na cidade e que batiza seu festival de cinema. Nesse desafio, contou o apoio do marido e também educador, Edgar Süssekind de Mendonça.

Chamada pelo jornal “O Globo” de “Eva agitadora”, que acusava a UFB de ser “um disfarce do Partido Comunista” [2], Armanda ficou presa entre outubro de 1936 e junho de 1937 por causa da associação da UFB com a Aliança Nacional Libertadora (ANL) e acusada de participação na Intentona Comunista de 1935.

O filme conta com entrevistas da historiadora Ana Chrystina Mignot, que escreveu sua tese de doutorado sobre Armanda, e de Anita Prestes, também historiadora, que relembra a relação da educadora com sua mãe, Olga Benário.

“Armanda” foi idealizado de Liliane Leroux e Flavio Machado, e realizado pelo Núcleo de Estudos Visuais em Periferias Urbanas da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Nuvisu – FEBF/ UERJ). O documentário foi produzido pela Dunas Filmes e patrocinado pela FAPERJ.

O lançamento é aberto ao público, na Lira de Ouro, na Rua José Veríssimo n° 72, no Centro de Duque de Caxias (RJ). Confira o trailer abaixo. Informações sobre o Festival  aqui.


Notas

[1] SANTOS, Júlio Paixão. Cuidando do corpo e do espírito num sertão próximo: a experiência e o exemplo da Escola Regional de Meriti (1921-1932). Dissertação de Mestrado – Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. Rio de Janeiro, 2008.

[2] O GLOBO, 13/09/1935. In: MORAES, José Damiro. Armanda Álvaro Alberto: Pensamento e ação nos anos 1930. IV Congresso Brasileiro de História da Educação, 2006.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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