Mestrado em História: dicas para a etapa de entrevista

Professores e professoras dão dicas para quem quer se preparar para a entrevista da seleção de mestrado.
22 de setembro de 2017
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Entrevista é um momento que exige bastante concentração. Foto: Pixabay.

O Café História deu início a uma série dividida em três posts que visa ajudar aqueles que desejam participar de uma seleção de mestrado em História. As dicas são dadas pelos maiores especialistas no assunto: professoras e professores universitários que participam frequentemente das bancas de seleção. O primeiro post, com dicas sobre a etapa da prova escrita, pode ser conferido aqui. Agora, passamos para o segundo post da série: dicas fundamentais para a etapa da entrevista com a banca examinadora.

Participar de uma entrevista de pós-graduação não é nada fácil. Diferente do que se pode pensar, ela não se confunde com uma entrevista de emprego, estando muitos mais associada à pertinência do projeto do candidato a uma determinada linha de pesquisa do programa de pós-graduação. Uma entrevista de mestrado exige muita concentração, objetividade, convicção, segurança, amadurecimento intelectual e, principalmente, demonstração de capacidade para desenvolver uma pesquisa de qualidade e dentro do prazo. Mas, não somos nós que daremos as dicas. Confira o que os especialistas no assunto têm a dizer.

Dennison de Oliveira (UFPR)Alinhamento com a linha de pesquisa

Quando for perguntado pela banca “porque escolheu apresentar sua candidatura ao nosso mestrado”, aproveite para demonstrar a compatibilidade entre o seu projeto de pesquisa e as temáticas da linha de pesquisa escolhida, enfatizando os ganhos científicos e intelectuais que o programa de mestrado irá obter com sua inclusão nele. Evite respostas simplórias do tipo “porque é mais perto da minha casa”. Essas respostas (e outras do tipo) frustram qualquer entrevistador.

Braz Batista Vas (UFT) – Clareza e humildade

Certifique-se de ter claro para si e para expor à banca o seu tema, seu problema de pesquisa, seus objetivos e as metodologias que serão utilizadas, sem deixar de manifestar disposição para possíveis adequações no projeto e humildade para aceitar a redução das suas pretensões iniciais ao que é exequível nos dois anos (o qual é padrão) de um curso de mestrado.

Suely Almeida (UFRPE) – Conforto e organização

Há posturas essenciais no dia da entrevista. Uma roupa discreta, chegar cedo para evitar correrias, ter água e uma barra de cereal para não haver necessidade de afastamento do local estabelecido, controlar os nervos. Quanto à exposição, ela deve ser objetiva e envolver em ordem de compreensão os seguintes pontos: tema, objeto, recortes cronológicos e geográficos, objetivos, um a um, apresentados na perspectiva do que será realizado. Demostrar segurança e domínio sobre o tema a ser investigado, principalmente no que tange ao estado da arte.

Francisco Mendonça Júnior (UFSM): Projeto é ponto-chave

Na verdade, a “etapa da entrevista” não é uma entrevista de verdade. Trata-se de uma defesa oral, na qual você tem que convencer a banca de que vai contribuir academicamente para aquele programa de pós-graduação, dentre outras coisas. O ponto-chave dessa defesa é o seu projeto. Nessa altura do campeonato você não pode alterar a versão entregue na seleção, mas você pode reorganizá-lo mentalmente. Sublinhe os seus pontos fortes, identifique os fracos, busque pontos de diálogo com o programa no qual você quer ingressar. Lembre-se: nada pior do que um projeto compartimentado, ou seja, construído em blocos que não dialogam entre si. Pense por que as suas opções teóricas são as melhores para lidar com suas fontes a partir da questão proposta. Como você recortou o tema, delimitou a documentação… Isso demonstra preparo, segurança, qualidades que contam pontos para um pesquisador iniciante. No mais, é manter o foco e a tranquilidade.

Zózimo Trabuco (UFOB) – Conhecer o currículo da banca

A seleção do mestrado muitas vezes é um processo mais difícil do que a seleção do doutorado, principalmente se durante a graduação o candidato ou a candidata não realizou trabalho de TCC (em algumas universidades a exigência pode ser recente). Neste caso, será a primeira vez que apresentará um projeto de pesquisa para um estágio da formação, sendo também um estágio de uma possível carreira acadêmica; a primeira vez que fará uma prova com uma exigência acima das avaliações da graduação – e a entrevista com uma banca de professores doutores é quase sempre um momento que causa muita insegurança em candidatos e candidatas. É bom conhecer o currículo dos professores e professoras da banca, suas áreas de pesquisa e perspectivas teóricas e historiográficas. Não para se adaptar a elas, mas para ter mais ou menos a percepção do que lhe espera. A primeira coisa a se fazer para se entrar seguro na entrevista é tentar estar seguro do projeto apresentado. Isso inclui a modéstia de entendê-lo como “projeto” e não como “um grande achado historiográfico”. É bom que você se apresente para a entrevista como você deve apresentar o projeto: com dúvidas bem fundamentadas e não com certezas prévias. Se alguém da banca é especialista no campo de pesquisa em que você está apresentando o projeto, é bom evitar “rezar missa para o padre”, e se ater ao que você pretende buscar com o seu projeto. Quanto às perguntas mais objetivas sobre a vida no mestrado, é bom ter em mente um possível orientador ou orientadora e também a necessidade ou não de bolsa (quase sempre necessária). No mais, apesar da modéstia necessária, você deve ter a segurança mínima de ser o especialista do seu próprio trabalho.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

4 Comments

  1. Há muitas inverdades e alguns embustes nesta farsa que foi denominada Lei Áurea. Tanto quanto este pagamento aos senhores proprietários dos escravos a título de levar mais pessoas/soldados pras frentes de batalha nesta guerra, a semi alforria também teve o escopo dissimulado de vender os panos que a Inglaterra começou a fabricar em seus teares recém imaginados

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