As mulheres que lutaram na Guerra Civil Americana 1
Sarah Emma Edmonds Seelye (à esquerda) e vestida de Frank Thompson (à direita). Arquivos do Estado de Michigan.

As mulheres que lutaram na Guerra Civil Americana

Os exércitos da União e da Confederação proibiram o alistamento de mulheres. Mas isso não quer dizer que a Guerra Civil dos Estados Unidos foi uma “guerra masculina”. Estima-se que até 250 mulheres tenham participado das fileiras do exército confederado.
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Embora algumas mulheres que lutaram na Guerra Civil Americana, como Loreta Janeta Velázquez, usassem bigodes falsos, a maioria das centenas de mulheres documentadas que se alistaram como soldados no conflito não chegaram a esses extremos teatrais. Combates em ambientes fechados e exaustivas campanhas tornavam difícil sustentar tais disfarces, e um soldado de rosto liso não era lá uma raridade, já que muitos recrutas eram adolescentes. Um capitão que testemunhou em uma corte marcial em 1862 disse sobre o soldado Walter Harold (na verdade, Helen Lambert): “Temos uns cem meninos no regimento que, assim como ele, poderiam ser confundidos com uma menina”.

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Tenente Harry J. Buford, também conhecido como Loreta Janeta Velázquez. Cortesia da Biblioteca do Congresso.

Um dos casos mais bem documentados de soldadas é o de Sarah Emma Edmonds Seelye (foto principal do artigo). Nascida em New Brunswick, no Canadá, em 1841, Seeley se disfarçou de homem com a ajuda de sua mãe para escapar de um casamento abusivo e se mudou para os Estados Unidos na década de 1850. 

Quando a Guerra Civil estourou, ela se alistou na Companhia F da 2ª Infantaria de Michigan em 1861, sob o nome de Franklin Flint Thompson. De acordo com suas memórias, Nurse and Spy in the Union Army: Comprising the Adventures and Experiences of a Woman in Hospitals, Camps, and Battle-Fields, ela serviu como enfermeiro e espião durante a guerra por dois anos, mas desertou após receber uma severa lesão que teria revelado seu gênero no hospital. Depois disso, trabalhou em Washington, DC, como enfermeira, em um hospital administrado pela Comissão Cristã dos EUA.

Após a guerra, Seelye publicou suas memórias em 1865 e se casou com Linus H. Seelye em 1867. Em 1882, ela se candidatou a uma pensão do governo devido a “sua saúde debilitada e ao fato de seu marido não ter renda, exceto com seu trabalho diário … ela e sua família estão em circunstâncias indigentes.” 

O Arquivo Nacional dos Estados Unidos contém o formulário de pensão de Seelye e a documentação de apoio de seus colegas soldados que testemunharam que Seelye e Frank Thompson eram a mesma pessoa, e que “Thompson” era um soldado zeloso. Um de seus camaradas, John Deitz, escreveu em uma carta ao Departamento de Guerra:

Eu rezo para que o Congresso receba meu testemunho em nome de meu camarada [sic] Franklin Thompson. Eu não sabia até agora que ele era uma mulher. Pelo período mencionado, ele merece crédito, seja homem ou mulher, pela forma como se comportava e conversava conosco. Pelo que me lembro agora, ele era muito inteligente [sic] para a sua idade, parecendo estar acostumado à boa sociedade.Ele escolhia seus companheiros com discrição, e era muito bravo. Todos nós simpatizávamos com ele porque ele era delicado. 

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Solicitação de pensão de Sarah Emma Edmonds Seelye, 1882. National Archives / Identifier 306649.

Vários anos depois, o Comitê de Pensões de Inválidos dos Estados Unidos concedeu a Seelye uma pensão de US$12 por mês por seu serviço militar. Por fim, ela foi conseguiu retirar contra si a acusação de deserção e receber uma dispensa honrosa. 

Em 1897, Seelye se tornou uma das duas mulheres admitidas no Grande Exército da República, a organização dos veteranos do Exército da União da Guerra Civil. Ela morreu em 1898 e foi enterrada na seção do Grande Army of the Republic Cemetery, em Houston. Mais tarde ela foi enterrada novamente em 1901 com todas as honras militares.

Este texto foi originalmente publicado no blog “Pieces of History”, do National Archives, com licença Creative Comuns.

Como citar este artigo

BARTGIS, Rachel. As mulheres que lutaram na Guerra Civil Americana (artigo). Tradução: Bruno Leal Pastor de Carvalho. In: Café História. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/as-mulheres-que-lutaram-na-guerra-civil-americana/. ISSN: 2674-5917. Data de publicação: 22 de março de 2021.

Rachel Bartgis

Técnica conservadora do National Archives em College Park, MD.

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