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Historiadores destacam características e contribuições do trabalho de Manoel Salgado Guimarães

Mesa no XXIX Simpósio Nacional de história foi dedicada ao falecido professor da UFRJ e da UERJ, ex-presidente da ANPUH.

Por Bruno Leal | Agência Café História

Foi talvez a mesa mais bonita, acolhedora e emocionante do XXIX Simpósio Nacional de História da ANPUH. “Formas de Historiografia: em torno da obra de Manoel Salgado”, realizada nesta quinta-feira, na Universidade de Brasília (UnB), discutiu a importância da obra e da atuação do historiador Manoel Luiz Lima Salgado Guimarães, falecido precocemente em 2010. Ex-presidente da ANPUH (2007-2009), professor da UFRJ e da UERJ, tendo feito sua formação no Brasil, na França e na Alemanha, Manoel contribuiu sobremaneira para os campos da Historiografia e da Teoria da História no país. A mesa foi composta pelos professores Francisco Regis Lopes Ramos (UFC), Durval Muniz de Albuquerque (UFRN) e Paulo Knauss (UFF).

Da esquerda para a direita: Francisco Regis Lopes Ramos (UFC), Tânia Regina de Luca (UNESP), Durval Muniz de Albuquerque (UFRN) e Paulo Knauss (UFF). Foto: Bruno Leal.

Paulo Knauss, atualmente diretor do Museu Histórico Nacional, adotou uma “perspectiva de aluno” em sua palestra. Além de amigo de Manoel, Knauss também tivera aulas com ele no final dos anos 1980, no mestrado em História da UFRJ. O historiador lembrou que Manoel tinha uma aula cativante e que provocava mais dúvidas do que certezas, além de ter uma escuta ativa e paciente.

“O Manoel tinha muito gosto em escutar o que os outros tinham a dizer, mesmo que fosse a maior maluquice! E escutava como se fosse algo super normal.”

Knauss ressaltou ainda a amizade entre Manoel e seu antigo orientador no mestrado, Eduardo Jardim, e com o historiador Affonso Carlos, seu amigo de departamento, com quem reformulou a pós-graduação em História da UFRJ. “Era uma época em que a historiografia estava aberta a inovações”.

Segundo Knauss, Manoel prezava muito a docência. E cuidava muito bem, por exemplo, da construção dos programas de suas disciplinas, cujas obras ali escolhidas diziam muito sobre sua forma de pensar a História. Ele destacou os autores sempre presentes nos cursos de Manoel (Michel de Certeau, Hannah Arendt e Sigmund Freud) e as novidades que costumava levava para a faculdade. “Manoel estava sempre levando as novidades historiográficas para as aulas. Mas ele não falava diretamente sobre elas. Ele as deixava em cima da mesa para despertar a curiosidade dos alunos. Ele deixava que os ‘outros’ as comentassem”. Foi assim, por exemplo, que Knauss e muitos outros de sua geração tomaram contato com as obras de autores como Pierre Nora e Reinhart Koselleck.

O professor do Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Valdei Lopes de Araujo, esteve presente na mesa e conversou com o Café História sobre a importância dos trabalhos de Manoel Salgado para os campos da Teoria da História e da Historiografia.

Francisco Regis Lopes Ramos, por sua vez, destacou que Manoel costumava trabalhar com áreas e autores não tão comuns nos cursos de História, caso de Freud e a psicanálise. E Manoel, segundo Ramos, deu contribuições importantes neste sentido, como a crítica elegante que fazia à perspectiva de Peter Gay, especialmente sobre a biografia que este escreveu sobre o “pai da psicanálise”. Manoel, conforme sublinha Ramos, reparou que Gay criticava Freud por não indicar claramente em seus textos psicanalíticos quais tinham sido as suas fontes. “Mas o conceito de fontes para Freud não era o mesmo para Gay. Não podia ser”, disse Ramos.

Além disso, explicou ainda o historiador da Universidade Federal do Ceará, Manoel também defendia que a psicanálise e a história não podiam ser resumidas a observação direta de um acontecimento ou a um dado empírico; elas envolveriam também reflexões, sentidos e imaginação. “Onde Peter Gay enxergava falhas no trabalho de Freud, Manoel enxergava possibilidades de atuação do historiador”.

Ramos também mencionou que Manoel tinha uma leitura trabalhada na forma, que usava muitas digressões e que sempre trazia muitas referências, o que nem sempre tornava o texto fácil, embora sua leitura fosse cativante. “Era leitor de Thomas Mann e, como este, gostava mais de vírgulas do que de pontos”.

Já Durval Muniz de Albuquerque, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, fez uma conferência que privilegiou a questão do “estilo” na narrativa historiográfica do amigo Manoel. Para Albuquerque, Manoel era “germanicamente preocupado com a clareza de seus escritos”.

Rejeitava palavras como “desvelar” e “revelar”, pois entendia que não era função do historiador retirar qualquer tipo de véu que poderia haver sobre a História. Mas o “estilo” a que se refere não se limitava, explicou, aos textos, estando presente também nos gestos e no tom de fala, na maneira como ele buscava a excelência em seus alunos, na elaboração de seus programas e na elegância com que tratava seus colegas, mesmo aqueles que pensavam diferente dele.

Albuquerque, último a falar na mesa, lembrou ainda que Manoel chegou a iniciar a graduação em Comunicação Social, mas que a trocou pelo curso de História depois de ter entrado em contato com os textos do historiador francês Michel de Certeau.

Se suas aulas eram fascinantes, isso ocorria porque eram a ruminação de várias horas de leitura, da conexão criativa que estabelecia entre aquilo que lia. Sua aula era um “acontecimento”. Eu nunca fui aluno com Manoel, mas sempre aprendi muito com ele. Acho que os antigos alunos de Manoel deveriam escrever um livro sobre ele – sublinhou Albuquerque a um auditório lotado, emocionado e saudoso.


Como citar essa notícia

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Historiadores destacam características e contribuições do trabalho de Manoel Salgado Guimarães. (Notícia). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/manoel-salgado-anpuh-2017. Publicado em: 28 Jul. 2017. Acesso: [informar data].

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