Morreu nesta segunda-feira, 21 de abril, o Papa Francisco, o primeiro papa latino-americano, aos 88 anos, após uma série de uma longa lura contra problemas pulmonares iniciados por uma infecção respiratória polimicrobiana A notícia foi confirmada no final da madrugada de hoje pela assessoria de imprensa do Vaticano.
Jorge Mario Bergoglio, nascido em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, é o primeiro papa latino-americano e jesuíta da história. Ordenado sacerdote em 1969, destacou-se por sua proximidade com os pobres e por sua atuação na liderança da Companhia de Jesus durante a ditadura militar argentina. Arcebispo de Buenos Aires desde 1998 e cardeal a partir de 2001, construiu uma trajetória marcada pela simplicidade e pelo compromisso com a justiça social. Eleito papa em 13 de março de 2013, após a renúncia de Bento XVI, adotou o nome Francisco e um estilo humilde e reformista, com foco na inclusão, na ecologia e na atenção aos marginalizados.
Historiador comenta
O Café História conversou na manhã desta segunda-feira com o historiador Leandro Duarte Rust, professor de História Medieval na Universidade de Brasília (UnB) e especialista na história do papado, autor de livros como “Igreja Medieval” e “Mitos Papais”. Segundo Rust, Francisco esforçou-se para dialogar com expressões do catolicismo em diversos lugares do mundo e, desta forma, alcançar maior representatividade.
“Ocorrida há 12 anos, a eleição de Francisco significou a busca por um novo momentum para a Igreja romana. E em vários aspectos, a ascensão do “papa do fim do mundo”, conforme ele mesmo denominou-se, desencadeou mudanças diversas e decisivas. Dentre as quais, podemos destacar o maior rigor e transparência nas medidas implementadas por Roma a respeito da longa crise dos escândalos de pedofilia e corrupção que se avolumaram ao longo dos pontificados de João Paulo II e de Bento XVI. Uma atuação contínua e sistemática para fazer com que o papado ultrapassasse os estreitos limites de ser instituição essencialmente romana – e, acima de tudo, europeia – e alcançasse maior representatividade junto às dimensões mundiais do catolicismo”, disse Rust.
Rust explicou que um dos elementos mais visíveis do reformismo de Francisco foi a ampla reconfiguração do colégio de cardeais. Atualmente, os nomeados por Francisco para o barrete vermelho constituem quase 80% dos homens responsáveis pela escolha do próximo sucessor de Pedro. Ou seja, no próximo conclave, as chances de que o sucessor de Francisco siga uma política progressista parecida com a sua são grandes.
Clima e outras questões contemporâneas
O período de Francisco à frente da Igreja Católica também foi marcado por questões contemporâneas, como emergências climáticas, combate à desigualdade social e a questão da homossexualidade.
“A primeira encíclica integralmente concebida e redigida pelo novo pontífice, Laudato Si’, depositou uma ênfase renovada sobre as relações teológicas entre o homem e a natureza em meio a um cenário de emergências e negacionismos climáticos. Contudo, a julgar pela escalada de reações estridentes a respeito de temas como o lugar a ser ocupado, no interior do catolicismo, pela liberdade sexual e pela homossexualidade, pelos desafios do diálogo interreligioso e ecumênico, pelo combate à pobreza e à desigualdade ou pela retomada dos debates em torno da reforma litúrgica instituída desde meados do século passado, me parece seguro dizer que um dos traços mais marcantes do pontificado de Francisco é ter revelado que a Igreja Católica prossegue lidando com a agenda religiosa instaurada pelo II Concílio do Vaticano”, diz Rust.
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O historiador também comentou a posição dos seus opositores:
A própria insistência dos opositores do papado de Bergoglio em apontá-lo como um regime sobre o qual se infiltram as águas turvas do “modernismo”, do “secularismo”, do “globalismo” – um vocabulário pertencente ao mundo de nossos pais e avós e que frequentemente deixa escapar as nuances mais desconcertantes e os dilemas mais agudos da vida em sociedade no século XXI – demonstra que os ideais religiosos vislumbrados durante o concílio continuam oscilando entre a implementação e a revogação, entre a promessa de um novo espírito para as relações entre o catolicismo e o mundo contemporâneo e a campanha para seu descarte como um passado abortado”.