Historiador comenta novo “Call of Duty”, que leva famosa franquia dos games de volta à II Guerra Mundial

10 de outubro de 2017

Call of Duty será lançado em novembro já foi objeto de estudo de dissertação de mestrado em História defendida no Brasil.

Bruno Leal | Agência Café História

No dia 3 de novembro, a Activision lança Call of Duty: WWII, o novo capítulo de uma das mais famosas e lucrativas franquias de games de todos os tempos. O novo Call of Duty volta ao cenário da Segunda Guerra Mundial, no qual a série começou em 2005.

O novo game contará a trajetória de Ronald “Red” Daniels, um soldado da 1ª divisão da infantaria dos Estados Unidos. Depois de sobreviver ao desembarque na Normandia, na clássica batalha do “Dia D”, Daniels vai precisar de todas as suas habilidades e da ajuda de seus companheiros de esquadrão para vencer os confrontos nas praias francesas, na Floresta de Hürtgen e na Batalha das Ardenas.

Historiador comenta franquia de Call of  Duty

Nos últimos anos, os historiadores têm se interessando cada vez mais pelos jogos eletrônicos como objeto de estudo. Por trabalhar diretamente com representações da Segunda Guerra Mundial, Call of Duty tem recebido atenção especial. O jogo esteve no centro da dissertação do historiador Marco de Almeida Fornaciari, intitulada A Guerra em Jogo: A Segunda Guerra Mundial em Call of Duty, 2003-2008 , defendida ano passado no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense.

Em conversa com o Café História, Fornaciari explicou que uma das principais características do primeiro Call of Duty, também ambientado na Segunda Guerra Mundial, foi a valorização do coletivo em detrimento do heroísmo individual no plano das batalhas. A narrativa apresentava a atuação de soldados de diversas nacionalidades, além de trazer a constante presença de aliados.

De acordo com o historiador, o jogo evitou potenciais controvérsias, especialmente aquelas relacionadas à participação dos americanos no front do Pacífico. “Qualquer tema que possa ser entendido como crítico à atuação estadunidense no conflito, a exemplo do bombardeio atômico no Japão, foi evitado”, disse Fornaciari. Quanto ao novo jogo, o pesquisador sublinhou:

– No tocante à representação da Segunda Guerra Mundial, o jogo parece retornar a alguns clichês comuns em obras que abordam o tema: o foco no teatro de operações europeu, eventos como o Dia D e a Batalha das Ardenas… Potencialmente interessantes são: a inclusão de uma personagem feminina, membro da resistência francesa, ainda que isso já tenha sido feito em Call of Duty 3, e a sugestão de que a perseguição nazista a judeus, largamente ignorada pela franquia até agora, será abordada através de um soldado de origem judaica.

Call of Duty na sala de aula?

Jogos eletrônicos têm se tornado não só tendência em dissertações e teses, mas também na sala de aula. Recentemente, Marcella Albaine Farias da Costa, doutorada em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) lançou o livro “Ensino de História e Games – dimensões práticas em Sala de Aula”, no qual busca discutir a maneira como os games também podem contribuir para a construção dos espaços escolares. Perguntado se um jogo como Call of Duty poderia ser usado em sala de aula, Fornaciari foi assertivo:

– Sem dúvidas. Diria que a questão não é “se” pode ser usado, mas “como”. É necessário considerar elementos como as limitações do tempo de aula e a infraestrutura da escola. Também precisamos nos afastar do estereótipo de que “jovens gostam de videogame”: há os que não gostam ou que jogam apenas títulos específicos. Creio que Call of Duty poderia ser utilizado em atividades paradidáticas — como já é feito com o cinema e a literatura —, que motivassem estudantes a pensarem no game como obra de autores com suas próprias visões sobre a Segunda Guerra Mundial: questionar o que é enfatizado, o que é ignorado, e quais seriam as possíveis justificativas e motivações por trás disso.


Como citar essa matéria

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Historiador comenta novo “Call of Duty”, que leva famosa franquia dos games de volta à II Guerra Mundial (Matéria). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/novo-call-of-duty/ Publicado em: 10 out. 2017. Acesso: [informar data].

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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