Dissertação de Marielle Franco para download

Em mestrado realizado na Universidade Federal Fluminense (UFF), Franco examinou as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs).
17 de março de 2018
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Ativista dos Direitos Humanos, vereadora e também pesquisadora. Marielle Franco, executada na última quarta-feira, no Rio de Janeiro, era formada em Sociologia dela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e mestre em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua dissertação, intitulada “UPP: a redução da favela a três letras”, pode ser baixada gratuitamente e na íntegra clicando aqui.

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Franco foi uma das vereadoras mais votadas nas eleições municipais do Rio de Janeiro em 2016. Imagem: site institucional de Marielle Franco.

O trabalho foi orientado por Joana D’Arc Fernandes Ferraz e defendido em 2016. Na banca estiveram os professores Joel de Lima Pereira Castro Junior, Claudio Roberto Marques Gurgel e Lídia Matos Rocha. Abaixo, o resumo da dissertação elaborado pela própria Marielle:

“O objetivo desta dissertação é demonstrar que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), enquanto política de segurança pública adotada no estado do Rio de Janeiro, reforçam o modelo de Estado Penal. Para tal é necessário apresentar um estudo sobre o significado das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) pela perspectiva da Segurança Pública e fundamentado nos elementos da Administração Pública. Trata-se de averiguar quais as relações contidas nestas Unidades, intrínsecas ao processo de elaboração e consolidação de políticas na área de segurança pública. Nesse sentido, haverá um esforço de identificar se as Unidades de Polícia Pacificadoras representam uma alteração nas políticas de segurança ou se estas se confirmam como maquiagem dessas políticas. Busca-se analisar, em perspectiva teórica ampla, se o modelo neoliberal no Brasil incorpora os elementos de um Estado Penal, considerando o processo de formulação e de implementação das UPPs nas favelas do Rio de Janeiro, no período de 2008 a 2013, peça chave para a compreensão deste fenômeno. Considerando a Favela da Maré como um dos elementos que corroboram para esta análise, uma vez que estes são caracterizados por elementos que sintetizam o modelo teórico proposto por Loïc Wacquant (2002), a saber, o processo de penalização ampliado, que colabora sobremaneira para a consolidação do Estado Penal, parte-se do pressuposto de que o modelo de análise proposto por esse autor, se aplicado ao caso proposto e guardadas as peculiaridades de cada contexto histórico-político, permite identificar um Estado Penal que, pelo discurso da “insegurança social”, aplica uma política voltada para repressão e controle dos pobres. A marca mais emblemática deste quadro é o cerco militarista nas favelas e o processo crescente de encarceramento, no seu sentido mais amplo. As UPPs tornam-se uma política que fortalece o Estado Penal com o objetivo de conter os insatisfeitos ou “excluídos” do processo, formados por uma quantidade significativa de pobres, cada vez mais colocados nos guetos das cidades e nas prisões”.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

9 Comments

  1. Eu acredito que tudo começa com uma educação de qualidade!É balela acreditar que existe uma segunda via para isso!A questão não é apenas negra.E indígena, é parda,e tantas outras!O nosso país é multirracial.Portanto,dizer que a polícia e culpada por isso, é justamente focar naquilo que pessoas inconsequentes e sem uma consciência moral e ética querem para o nosso país.Ser pobre ou desprovido de recursos não dá o direito de usurpar aquilo que não é seu,mas sim de lutar pra ocupar o seu espaço com dignidade.Esse esquerdistas que tanto se opoe deveriam lutar por melhorias na infraestrutura das favelas,com melhorias nas condicoes de saúde, educação,e principalmente nossas crianças e jovens longe das Drogas.Situacoes estas que a falecida Vereadoa era contra.A culpa de todas essas mazelas são dos governantes que faliram o Rio de Janeiro durante anos,e hoje vêem o resultado de tudo isso,no caos desenfreado que se apresenta.

    • Balela é seu raciocínio raso, aliás não é balela porque é muito grave sua maneira de pensar. Esta, sim, reforça a ação de exposição de forças do Estado sobre uma multidão (mais da metade do Brasil). A Polícia é a arma do Estado, que, como dissestes, está à mercê da corrupção (que inclusive se baseia em falas como a sua pra “investir” milhões, inventar ministérios e cargos para continuar regalias e empobrecer de direitos mais ainda a população. O que acontece nas favelas sob intervenção militar é um campo de concentração, onde o Estado retira qualquer direito e assume total controle sobre a vida de qualquer um. ou seja o Estado autoriza a força armada a matar quem quiser (principalmente quem denuncia isso).

    • Enquanto alguns falam, vaziamente, Marielle fazia, e deixou seu legado para nós, que acreditamos no Brasil, continuarmos fazendo. Fazendo, não só achando que os outros têm que fazer.

      Enquanto alguns lutam para si, outros lutam para todos.

      Marielle presente!
      Hoje e sempre.

    • O raciocínio reacionário é sempre mutilado. Então “tudo começa pela educação de qualidade”. Pois bem: o que gera o acesso de todos à educação de qualidade? Quais são os interesses em jogo? O que deve ser feito antes pra que nos possamos conseguir isso? Educação de qualidade não é o começo de nada. Isso está no meio ou no fim de um processo muito mais longo e complexo do que o raciocínio raso, e hipócrita, dessas pessoas consegue (ou mesmo quer) alcançar.

  2. Marielle Franco. Presente.
    Presente porque ela dedicou a sua vida na materialização dos Direito Humanos de acordo com as suas condições materiais objetivas de existência. Presente por que foi capaz de desenvolver as suas convicções sustentada numa análise de conjuntura crítica-reflexiva de sua própria realidade. Por isso Marielle foi capaz de ser protagonista de sua comunidade. Ao poder expressar os seus sentimentos, pensamentos, fala e práxis.Se fez presente ao se converter em coletivo e ter como bandeira de Luta, os Direitos Humanos, que é um acordo estabelecido em 1948 por mais 150 países do planeta terra, incluindo o Brasil. Direitos Humanos que diz respeito: a dignidade humana, o acesso a saúde e educação de qualidade, acesso a segurança pública e a liberdade de expressão, dentre outros. Direitos Humanos cooptados pela engrenagem de um sistema historicamente organizado e estruturado com a função de enriquecer,por meio de desviando dinheiro público um grupinho,pautado pela ética da corrupção e que tem como principais protagonistas: os Poderes Legislativo, executivo, Judiciário, ministério público estadual,federal, Tribunal de Contas e grandes empresários do Estado do Rio de Janeiro.
    Ela foi executada por que o seu protagonismo e interesse pelo bem comum ameaçavam esses interesses ocultos desse grupinho. Por isso eu vos digo: Marielle Franco, Presente.

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