Conheça aquele que é considerado o primeiro mapa do Brasil

Publicado em 1556, mapa de Giovanni Battista Ramusio é rico em detalhes e rompe com alguns sensos comuns sobre as primeiras décadas do processo de colonização do Brasil.
23 de abril de 2021
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Giovanni Battista Ramusio, Delle Navigationi et Viaggi (1556). Exemplar colorizado da Biblioteca Digital de Cartografia Histórica — Universidade de São Paulo.

Publicado pela primeira vez em 1556 no terceiro volume da obra Navigationi et Viaggi de Giovanni Battista Ramusio, o mapa acima, de Giovanni Battista Ramusio, tem sido considerado por muitos especialistas como a primeira representação cartográfica do Brasil, ou melhor, daquilo que hoje denominamos Brasil. É um mapa cheio de detalhes, com ilustrações de embarcações, de indígenas, de animais silvestres e até mesmo a nomeação de alguns pontos do relevo brasileiro.

Segundo o Cartografia Histórica, da Biblioteca Digital da USP, o escritor veneziano Giovanni Battista Ramusio (1505-1557) desempenhou vários cargos públicos na Itália, produziu roteiros e traduções de relatos de viagem. Interessava-se ainda por geografia e foi secretário do embaixador da República de Veneza na França. Navigattioni et Viaggi foi uma das principais obras de Ramusio, com claras contribuições à cartografia.

“O terceiro volume foi publicado em 1556, antes do segundo; o manuscrito desse volume foi destruído em um incêndio antes de ser enviado a gráfica, e sua publicação foi adiada até 1559, dois anos após a morte de Ramusio. Navigattioni et Viaggi foi traduzido para várias línguas e reimpresso em várias edições, indicando quão populares tais livros estavam se tornando na Europa. Navigattioni et Viaggi cimentou o caminho para uma série de trabalhos similares, incluindo os de Richard Hakluyt.”

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Giovanni Battista Ramusio, Delle Navigationi et Viaggi (1556). Biblioteca da Universidade de Heidelberg.

O Café História conversou com o historiador Jonas Wilson Pegoraro sobre o mapa de Ramusio. Pegoraro, que é professor de História do Brasil Colônia do Departamento de História da UnB, destacou vários elementos que ele considerou interessantes na imagem:

“Não é um mapa que estamos acostumados a ver, isso é, no sentido referencial N-S hemisférico. No lado esquerdo superior vemos a bacia do Rio da Prata e há indicações de algumas localidades, como “S. Maria” e “S. Francisco”. Abaixo da letra “B” há ainda a indicação de S. Sebastião”. De forma geral percebe-se o trabalho ameríndio, prioritariamente de extração de madeira, e uma grande interação com o meio ambiente, uma vez que macacos e pássaros compõe e mapa. Tal representação desfaz alguns “sensos comuns” que se tem sobre o início do processo de colonização do Brasil, um diz respeito, justamente, ao intenso trabalho do ameríndio, o qual está em destaque e presente em todo o litoral conhecido pelo colonizador. Observo ainda que no mapa há indicações de “terras não descobertas”. Há a representação explícita de apenas dois colonizadores europeus, na parte inferior direita do mapa, um deles entregando um cálice para um homem que carrega uma madeira. Interessante perceber que um desses colonizadores, que observa o trabalho, está carregando um arco, porém, a grande maioria dos arcos está nas mãos dos ameríndios – cinco no total. Tanto homens quanto mulheres praticam a caça. O processo de construção também nos chama a atenção, um abrigo em destaque no total de cinco. Muitos utilizando a madeira não só em sua base como para a cobertura (não o abrigo em destaque). No abrigo em destaque percebemos o uso de redes e o chão para o descanso.”Outra representação que parece ser uma igreja está de forma diminuta indicada perto da localidade de São Francisco.”

O mapa de Giovanni Battista Ramusio já foi objeto de algumas pesquisas no campo da cartografia histórica. Um desses estudos é o artigo “Ensaio sobre o mapa “Brasil” de G. Gastaldi pertencente ao Delle navigationi e viaggi de G. B. Ramusio (1556; 1565; 1606)”, da pesquisadora Olga Okuneva. O artigo, ideal para quem deseja saber mais sobre o mapa, pode ser acessado e baixado gratuitamente clicando aqui.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

4 Comments

  1. È um muito bom artigo a fazer lembrar a herança deixada pelos portugueses,e a luta constante contra Espanha muito maior do que o pequeno condado portucalense.
    O Brasil è o maior paìs das amèricas,mesmo maior do que os USA sem o Alasca,que seja uma boa recordaçao para que o futuro seja ainda mais promissor para ambas as partes,e que os brasileiros saibam sempre lembrar-se da sua herança historica e ter orgulho nela!
    O futuro do Brasil è muito promissor devido ä sua imensidao e riqueza natural e do seu povo trabalhador e empreendedor!

  2. A biblioteca de Sérgio Buarque de Holanda na Unicamp tem em seu acervo um exemplar da obra de Ramusio. É bem provável que o autor de Visão do Paraíso o tenha adquirido em sua passagem por Roma na década de 1950, quando lá esteve como docente e adido cultural.

    Bela matéria Bruno.

  3. muito legal! por ele dá pra entender o que os portugueses entendiam de Brasil e puxar as explicações de o “não interesse” em explorar das primeiras décadas, uma vez que não aparentava grandes esperanças de pedras preciosas.

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