Historiador leva a antiga língua dos astecas para dentro de sala de aula

16 de junho de 2017
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Kevin Terraciano, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, é um dos grandes estudiosos de Nahuatl.

Por Bruno Leal | Agência Café História

Não é incomum encontrar universidades norte-americanas que oferecem cursos de língua estrangeira em suas grades de disciplinas. A University of California, no entanto, inovou recentemente ao oferecer aulas de Nahuatl [pronuncia-se na’wat], a antiga língua dos povos astecas. Já há cursos de nível iniciante e intermediário. Para o ano que vem está previsto um curso avançado. E em setembro deste ano, estudantes da UCLA começarão a oferecer aulas de Nahuatl em uma escola de Los Angeles.

O principal responsável por levar a língua antiga dos astecas para a UCLA é o historiador Kevin Terraciano, diretor do Latin American Institute. Terraciano, fluente em espanhol, tem estudado e trabalhado com o Nahuatl por duas décadas. O conhecimento dessa língua, além de outras, também nativas do México antigo, tem sido fundamental para os seus estudos sobre o período colonial, sobretudo para compreender a colonização espanhola a partir de uma perspectiva indígena. Deste modo, ao se levar o idioma dos astecas para as salas de aula da universidade, a expectativa é que estudantes de diferentes cursos também possam enriquecer seus conhecimentos sobre a cultura e a história mexicana.

Nahuatl Book
Ilustrações contidas no Florentine Codex, um dos mais importantes livros já escritos em clássico Nahuatl. Foto: Laurentian Library.

Terraciano explica que o Nahuatl é considerado por muitos mexicanos como a língua do antigo México. “O Nahuatl ainda era a língua falada em boa parte do Vale do México no final do período colonial (1521-1821)”, ele explica. “Embora 90% da população tenha morrido durante um período de 100 anos como resultado de uma epidemia após a outra, os povos indígenas da região ainda eram a maioria da população do México no final desse período”, completa o historiador. Hoje, a língua indígena é falada por apenas 1 milhão e meio de pessoas no México, muitas das quais vivem no estado de Vera Cruz.

O ensino do Nahuatl tem crescido bastante nos Estados Unidos nos últimos anos. Em 2014, a UCLA, a Stanford University e a University of Utah formaram a chamada Western Alliance for Nahuatl, uma aliança educacional que conseguiu, junto ao Departamento de Educação dos EUA, oferecer cursos da língua em escolas americanas. As universidades compartilham os recursos, constroem o currículo e treinam instrutores nativos da língua a atuar com ensino a distância. Os cursos de Nahuatl oferecidos pela UCLA, por exemplo, são ensinados via teleconferência, direto de La Cruz, em Zacatecas, México.

Para saber mais sobre o projeto da UCLA, clique aqui (em inglês). Na reportagem sobre o tema publicada pelo site UCLA Newsroom é possível conhecer outros projetos envolvendo o idioma, como o desenvolvimento de uma versão digital e interativa do Florentino Codex, uma enciclopédia da cultura Nahuatl compilada por um frade franciscano do século XVI. Só há uma cópia disponível do documento no mundo. Diversos historiadores, estão colaborando com a Biblioteca Laurentian, da Itália, que preserva o original, para a construção a versão digital. Um desses historiadores é Kevin Terraciano.

Com informações do UCLA Newsroom e do Latin America Visualized.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

5 Comments

  1. Most ancient codes were destroyed by catholic people in their agressive fervor religionen. Few legitimate codes survived, one can name them.

  2. Uns poucos códices legítimos sobreviveram à fúria destrutiva dos padres e de adeptos da nova religião ali implantada.

  3. Pelo que sei, quando os espanhóis chegaram às Américas, propriamente no México, os chamados índios já eram mais civilizados que os europeus chegantes. Os Inkas e Maias tinham segredos e mistérios que nunca foram desvendados. Naturalmente que a história desses povos passou de geração a geração, e muita coisas,fatos e tesouros próprios de suas existências foram passados às gerações posteriores. Vale a pena conhece-los

  4. Pode ser que as linguas nativas das amèricas tenham algo em comum.
    As doze tribos de Israel foram espalhadas pelo mundo inteiro,atè na Geörgia,antiga URSS falam uma mistura de hebraico,turco e russo.
    Que se faca um estudo mais aprofundado dos dialetos das amèricas e que se confrontem histörias dos seus povos para ver se vai dar a uma aproximacao äs tribos perdidas.
    Nao se sabe onde elas estao,pode ser que o puzzle comece a ser fechado

  5. triste e saber que precisa quase extinguir um povo pra depois tentar retomar o que foi perdido, aqui no brasil temos ainda muitos povos com muito mais virgindade cultural que sao ameaçados e destruidos a cada momento. gente de valor incalculavel. que saberia nos aproximar mais da nossa origem humana, ou pelo menos ofertar pistas. Quando vamos nos importar mais com nos mesmo?

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