Dicas de livros: dezembro de 2014

7 de dezembro de 2014
Surtando em Wall Street | Jared Dillian | Zahar | 2014 | 392 pp.

Dicas de livros: dezembro de 2014 1A Zahar acaba de lançar “Surtando em Wall Street – Memórias de um operador do Lehman Brothers”, de Jared Dillian. Bastante elogiado nos Estados Unidos, o livro, como o próprio subtítulo informa, conta a trajetória de um engravatado de Wallstreet na crise econômica de 2008, a maior do sistema capitalismo desde a quebra da bolsa de Nova York. A narrativa de Dillan se concentra no período em que ele trabalhou nos escritórios do Lehman Brothers Holdings Inc., entre 2001 e 2008. O Lehman Brothers foi um banco de investimento e provedor de outros serviços financeiros, com atuação global, sediado em Manhattan, na região da Times Square, e foi um dos protagonistas da crise que afetou e ainda afeta todo o mundo. O banco pediu concordata em setembro de 2008 e significou a maior falência da história dos Estados Unidos. Dez mil pessoas trabalhavam na empresa, entre eles Dillian. O autor do livro era em muitos aspectos muito parecido com qualquer outro operador financeiro de Wall Street: trabalhava demais, tinha pouca vida social e à beira de um ataque de nervos. Basta dizer que após o 11 de setembro de 2001, Dillian passou a operar um fundo de investimentos que movimentava mais de 1 trilhão de dólares. Mas ele também tinha um lado ímpar. Ex-militar, oriundo da classe trabalhadora e vestindo termos modestos, Dillian tinham uma percepção mais ampliada do mundo em que vivia.. Nada disso, no entanto, não evitou que a crise que aconteceria bem debaixo do seu nariz quase o levasse a loucura e perdesse a própria vida. O livro, nas palavras da Bloomberg, e “perturbadoramente indiscreto (…) Franco, direto e, muitas vezes, hilariante”. Quer conhecer mais sobre a história contada por Dillian, clique aqui.

The Pacific | Hugh Ambrose | Bertrand Brasil | 2014 | 798 pp.

Dicas de livros: dezembro de 2014 2Em 2010, a HBO lançou a minissérie “The Pacific”, que contava em dez episódios a campanha de um grupo do Corpo de Fuzileiros Navais no Teatro de Operações do Pacífico. A produção era semelhante a outra minissérie, lançada em 2001, “Band of Brothers”, também da HBO, que se passava no Teatro de Operações Europeu. As duas séries, bastante realistas e trabalhando profundamente com história oral, fizeram enorme sucesso entre a crítica e o público. “The Pacific” , lançado recentemente pela editora Bertrand Brasil, é o livro que inspirou a segunda série. A obra foi escrita pelo historiador Hugh Ambrose, filho de Stephen E. Ambrose, que escreveu “Band of Brothers”, e consultor da série da HBO. “The Pacific” trabalha com a perspectiva de cinco soldados americanos em sua luta no Pacífico, no período que vai da retirada das tropas norte-americanas da China, no fim de 1941, e no momento em que o avião de MacArthur aterrissa no Japão, em agosto de 1945. Cobrindo quase quatro anos de combate com um acesso sem precedentes a registros militares, cartas, diários, fotografias e entrevistas, este livro oferece uma perspectiva histórica da guerra contra o Japão. O livro é uma leitura de fôlego: quase 800 páginas. É relativamente bem ilustrado e possui uma linguagem que promete alcançar o grande público. Para quem gosta do tema “Segunda Guerra Mundial” vale a pena dar uma espiada em “The Pacific”. A obra figurou nas principais listas de mais vendidos, como a do The New York Times e do Publishers Weekly. Para saber mais sobre a obra, inclusive como comprar clique aqui.

História do Ateísmo | Geroge Minois | Ed. UNESP | 2014 | 762 pp.

Dicas de livros: dezembro de 2014 3“Uma história da descrença [incroyance] e do ateísmo, numa época em que se proclama por toda a parte a ‘volta da religião’, a ‘revanche de Deus’ e o ‘reencantamento do mundo’, seria uma provocação, um ato de inconsciência, um arcaísmo ou um delírio?” Para Georges Minois, autor do colossal “História do Ateísmo”, publicado em 2014 pela Editora UNESP, “nada disso, evidentemente”. O livro de Minois, que é professor de história e historiador das mentalidades religiosas, busca situar o ateísmo em uma longa tradição filosófica quase sempre negligenciada pelos pesquisadores da religião. Essa história, no entanto, diferente do que se poderia muito bem imaginar, encontra-se profundamente ligada a história das religiões e das religiosidades. Dividido em 20 capítulos – o livro é grande, com 763 páginas – a narrativa começa pela Antiguidade grega, que estabeleceu as bases do ceticismo, de acordo com o autor, e chega até os dias atuais, com as crenças personalizadas e o “retorno do religioso”. Mas nesse ínterim, o autor explora conceitos coo descrença, racionalidade e irracionalidade, além como o pensamento de grandes céticos, como Hegel, Marx e Nietzsche. Segundo Minois, quando as sociedades voltam-se à razão e a tomam como guia capaz de lhes revelar aos poucos o sentido da vida, emergem correntes como uma “grande religião” e o ateísmo teórico. Ambos expressam uma reflexão intelectual sobre o universo: “Nesses períodos, a razão serve para reforçar a fé em alguns e destruí-la em outros, porém ela é referência para todos”. Para saber mais informações sobre esse lançamento da UNESP, inclusive como adquirir o livro, clique aqui.

O Grande massacre de gatos | Robert Darnton | Paz e Terra | 2014 | 379 pp.

Dicas de livros: dezembro de 2014 4É praticamente impossível encontrar um historiador que não conheça, pelo menos de nome, o livro “O grande massacre de gatos”, do historiador norte-americano Robert Darnton, atual diretor da biblioteca de Harvard, nos Estados Unidos. O livro é uma obra de referencia nos cursos de graduação em história. E não é para menos: lançado pela primeira vez em 1986, ele é um trabalho inovador a respeito da história cultural e das mentalidades. Talvez, por isso, a editora Paz & Terra tenha se interessado em reedita-la agora no Brasil, a primeira vez seguindo as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Como o próprio autor explica, o livro nasceu de um curso de história das mentalidades dado por ele desde 1972, na Universidade de Princeton, mas que teve uma guinada à antropologia, graças a influência de Clifford Geertz, com quem ministrava o curso. Segundo Darnton, o livro “analisa as maneiras de pensar na França do século XVIII. Tenta mostrar não apenas o que as pessoas pensavam, mas como pensavam – como interpretavam o mundo, conferiam-lhe significado e lhe infundiam emoção.” Interessado principalmente no universo do homem comum, isto é, o homem que esteve à margem do Iluminismo, ou que foi afetado por esse indiretamente, Darnton recorre a contos e histórias existentes no universo camponês, em cartas de leitores, os arquivos de um inspetor de polícia. Com isso, o historiador foge de antigas variáveis utilizadas pela historiografia para compreender o comportamento de uma comunidade, dos discursos acadêmicos ao número às invocações à Virgem Maria em testamentos, sempre passando pelo aspecto da contagem. Para saber mais sobre esse clássico, clique aqui.

Arquivos Paroquiais e História Social na América Latina | João Fragoso, Roberto Guedes, Antonio Carlos Jucá de Sampaio | Mauad X | 2014 | 388 pp.

Dicas de livros: dezembro de 2014 5A editora Mauad X acaba de lançar “Arquivos Paroquiais e História Social na América Latina – Métodos e técnicas de pesquisa na reinvenção de um corpus documental”. O livro, organizado pelos historiadores João Fragoso (UFRJ), Antonio Carlos Jucá de Sampaio (UFRJ) e Roberto Guedes (UFRJ), tem a interessante proposta de pesquisar a história (ainda bastante desconhecida) do Rio de Janeiro do século XVII. Para isso, os autores utilizam como fontes registros paroquiais de batismo, de casamento, de óbito e testamentos. Suas informações podem trazer à luz histórias geracionais de famílias da nobreza e de seus mundos mesclados aos de seus clientes e parentes cativos, alforriados e egressos do cativeiro. A forma como pardos e pretos forros emergiram socialmente, se tornaram padres que cultivavam devoções, geravam filhos e batizavam seus paroquianos, seus percursos familiares, o vocabulário social das religiosas, entre outras características da época são encontradas na obra. O livro é dividido em três partes: métodos (com três artigos), compadrio, casamento e trajetórias (com quatro artigos) e culto e história social do Clero (com dois artigos). “Arquivos Paroquiais e História Social” resulta de um projeto de mesmo nome, financiado pela Fundação Carlos Chagas de Aparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), coordenado por dois dos organizadores do livro, João Fragoso e Roberto Guedes, mas que envolve diversos pesquisadores da UFRJ, UFRRJ e UNIRIO. Para saber mais sobre o projeto clique aqui. Para saber mais sobre o livro, clique aqui.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

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