Docentes de História dos Institutos Federais publicam manifesto com críticas ao governo Temer

1 de agosto de 2017
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“Carta de Brasília” foi elaborada no I Fórum dos Docentes de História dos Institutos Federais, realizado semana passada em Brasília.

Por Bruno Leal | Agência Café História

Entre os dias 24 e 27 de julho, no âmbito do XXIX Simpósio Nacional de História da Anpuh, foi realizado o I Fórum dos Docentes de História dos Institutos Federais. A abertura do evento contou com a presença do Pró-Reitor de Ensino do IFB, Adilson Cesar de Araújo, os professores Thiago de Faria e Silva (IFB) e Glauco Vaz Feijó (IFB). Em seguida foi realizada a palestra sobre a temática “Ensino de História nos Institutos”, mediada por Nathalia Alem, do IFBA e com participação de representantes do IFPR – Campus Curitiba, IFRR – Campus Amajari, CEFET-RJ – Campus Maracanã, IF- Fluminense – Campus Cambuci e IFTO – Campus Paraíso do Tocantins. Nos dias seguintes, ocorreu uma programação extensa, com conferências sobre Ensino de História e Educação.

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Nesta segunda-feira, 31 de julho, a Associação Nacional de História, em seu perfil oficial do Twitter, publicou um documento produzido pelos educadores que participaram do Fórum, intitulado “Carta de Brasília”. Marcado pelo tom político de oposição, o documento é bastante crítico às medidas do governo Temer no plano educacional e social.

Leia, abaixo, na íntegra, a “Carta de Brasília”:

Carta de Brasília

A história brasileira, na interseção de temporalidades diversas, vem sendo marcada por rupturas institucionais e golpes de estado, que em última instância, redefiniram o pacto político burguês e garantiram os interesses corporativos do grande capital, seja nas territorialidades urbanas e/ou rurais, que visam manter uma estrutura socioeconômica dependente, periférica e excludente.

O golpe de 2016 vem promovendo uma série de ataques com vistas a desmontar a incipiente política de distribuição de renda:

1 – Congelamento dos investimentos sociais por 20 anos;

2 – Reforma do Ensino Médio;

3 – Tercerização ampla e irrestrita;

4 – Reforma Trabalhista;

5 – Reforma da Previdência.

Todos esses ataques visam garantir o pagamento da dívida pública que consome, aproximadamente, metade da nossa matriz orçamentária, o que demanda urgentemente uma auditoria cidadã.

Preocupa-nos especialmente a imposição da Reforma do Ensino Médio feita de forma autoritária e que promove a precarização, o sucateamento, a terceirização e a privatização da Educação Básica. Dentre os principais ataques, destacamos: a não obrigatoriedade do ensino de História e outras disciplinas das Ciências Humanas; a possiblidade de contratação de professores por “notório saber”; a desintegração do Ensino Médio em percursos formativos empobrecedores e definidos pelos Sistemas de Ensino.

A intenção desta última reforma é uma educação desestruturante, excludente e voltada para os interesses de um mercado hegemonizado pelo capital financeiro. Nessa conjuntura de retrocessos, nós, professores e professoras de história da rede federal reunidos no I Fórum de Docentes de História dos Institutos Federais, manifestamos grande preocupação com a Educação Básica no país e conclamamos todos e todas a resistir e lutar por uma educação pública, gratuita, de qualidade, laica e democrática, direito de todos e dever do Estado.

Como escreveu um dos maiores defensores da educação pública brasileira, concluímos:

“A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista. Ela é que incandesce, ainda hoje, em tanta autoridade brasileira predisposta a torturar, seviciar e machucar os pobres que lhes caem às mãos. Ela, porém, provocando crescente indignação nos dará forças, amanhã, para conter e criar aqui uma sociedade solidária”.

(Darcy Ribeiro, “O povo brasileiro”. Companhia das Letras, 1995)

Instituto Federal de Brasília, Campus Brasília

Universidade de Brasília, Campus Darcy Ribeiro

27 de julho de 2017.

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

11 Comments

  1. A carta é um auto-retrato da educação pública que corrobora a necessidade do projeto escola sem partido. Outrossim, não esqueçamos que Temer é o vice da Dilma e é unicamente disto que se trata na carta, infelizmente. O assunto deveria ser educação e não é.

  2. Infelizmente não ha interesse político na melhoria do ensino público no Brasil, afinal de contas,o que será do ensino privado se o público alcançá-lo ou superá-lo? Não interessa às elites, que seus filhos concorram em igualdade de condições com o filho da faxineira, afrodescendente e/ou nordestino!

  3. Trabalhei no MEC 11 anos concursado temporário da UNIÃO. Estes Institutos foram aparelhados pelo PT e muitos que estão lá tiveram facilidades nas provas principalmente realizando concurso em Polos bem distantes de Brasília e depois em um passo de mágica eram transferidos para Brasília ou para suas cidades de Origem. Não participo disto mesmo achando Temer um Fiasco. Por sinal ele fazia parte da Chapa do PT. Fassam um levantamento de quanto se gasta com estes Institutos e quantos alunos chegam ao Final do Curso teremos algumas surpresas.História se faz ensinado história e não salvando partidos ou políticos duvidosos.

    • Sinto informar que seu comentário é mentiroso, calunioso. O concurso aos institutos não é cabide politica de emprego onde se negocia a entrada. Esse tipo de falácia é clássica e utilizada apenas para tentar legitimar. A ignorância é o reacionarismo tem levado a esses tipos de comentários acima. Os institutos têm apresentado os melhores resultados educacionais, tanto que foram chamados de “Coreia” em noticias pós resultados no ano 2016. Não são Coreias. São boas escolas oferecidas aos brasileiros, com acesso democratizado. A doutrinação acima acusada aos institutos ou demais escolas tem sido do um pretexto para que de fato haja uma doutrinação por parte de gente como vocês. São acusações que não se sustentam, não há comprovação, pesquisa realizada, etc. Muito pelo contrário. A revista Nova Escola trouxe a polêmica e apresenta o qão frágil e esta acusação. No entanto, a quem acusa, é questão de dogma, de convicção. Dogma não carece de provas, não é mesmo?

      • Lamento que a senhora esteja um pouco no Mundo da fantasia. Até concordo que algumas bancas em alguns Estados aconteçam desta forma com bons resultados. E respeito sua defesa já que suas fundamentações academicamente estão norteadas de alguns resultados mas muita comunicação institucional. Tenho boas lembranças das pessoas idôneas que vieram dos antigos CEFET,S e minha memória guarda também lembranças de bons projetos dos Institutos. Mas seu discurso se torna ideológico pela tonalidade de seu vocabulário. Seja feliz acreditando que todos os funcionários do Brasil são perfeitos e que jamais ocorreram falhas em algumas instituições Brasileiras em certas Capitais.
        Quem passou por Brasília e conviveu mais de 12 anos supervisionando projetos educacionais em todo Brasil do Acre ao Chuí também deve viver no Mundo da fantasia. Não sei quando a Senhora entrou no IF estou falando do período entre 2007 e 2013 e principalmente 2008/2014. Antes de chamar alguém de mentiroso e calunioso (Vocabulário muito comum aos nossos políticos atuais ) procure respeitar a opinião do outro e utilizar um oratória melhor, podemos desconstruir até a verdade ou a mentira quando tratamos no plano das fundamentações e não das agressões) . Não vou citar os casos envolvendo a Policia Federal e as Unidades duvidosas. Aqui se faz mais história e em respeito aos profissionais que entraram pela porta da frente e atuam de forma regular incluindo a Senhora se for o caso. Mas antes de utilizar a maquina pública para política partidária preparem boas aulas bons projetos isto é mais saudável e quem sabe até mais produtivo.Agora uma informação adicional durante muitos anos lecionei no ensino superior em uma Instituição privada de Brasilia .A Instituição era regular e desprovida de tecnologias algo que não falta no IFS. Um dia em 2006 foi agraciada por uma editora Nacional de renome como o melhor curso de administração do Brasil apesar de nosso empenho pela Faculdade sabíamos que a Instituição não merecia tal credito ,mas encaramos como um trabalho de equipe e motivador para os alunos. Não estou falando que no IF lá e bem diferente bem diferente , mas imprensa no Brasil também tende a ser Partidária e fantasiosa quando é conveniente.Por isto sinto falta de dados na Educação Profissional incluindo o bem pago SISTEMA S e os IFS. Sucesso em suas ações e projetos e espero que pertença a um bom IF descolado das Politicagens de Brasilia, Acre, Curitiba Rio e RS. E muitas ações positivas tendo como princípio a coragem de avaliar o aprendizado em sua totalidade sempre para melhorar cada vez mais.

        • Sr Antonio Xavier, gostaria de falar com vc.
          Caso tenha sido o Acessor Tecnico em 2009 pelo MEC.
          Telefone para contato 92 -3638-1451

    • O erro na Grafia da palavra Façam estava escrito certo na postagem original, publicaram a segunda postagem com a falha por erro de duplicidade da minha parte / digitação. .Tenho o Print Agradeço a Publicação: cordialmente Antonio Xavier. Obs Apenas no caso de Algum Ruído

  4. Essa dita “reforma do ensino médio” nada mais é do que o desmonte da pouca educação de qualidade que ainda temos no país, veio claramente para delapidar e confundir, e em parte conseguiu, pois os movimentos contra vieram tardiamente. Pois bem como retirar disciplinas como História e Geografia se o objetivo além de qualificar para o trabalho é também formar indivíduos críticos e conscientes, ora sou professor de História e quanto mais estudo mais vejo necessidade de estudar, principalmente para entender e ter opinião crítica e embasada dentro de um quadro tão controverso, dinâmico e surreal quanto o de agora. Porque afinal, estamos vivendo um momento pra historiador nenhum botar defeito. Retiram estas disciplinas ao mesmo tempo em que ampliam a carga horária (confundir), mas pra que aumentar carga horária se vai sobrar carga horária com a retirada destas disciplinas. O que a educação básica de hoje precisa é de remunerar melhor os professores, que motivados farão um trabalho bem melhor, não adianta dar mais do mesmo que aí esta, isso poderá inclusive aumentar a evasão. E essa conversa que estão publicando nas propagandas do ensino médio também é uma enorme, malversada e notória mentira (que conversaram e consultaram antes de fazê-la), se até mesmo o Faustão disse na época que não conversaram com nínguem e todo mundo se lembra também, porque é muito recente. Concordo com o colega acima que disse que o ensino público deveria alcançar ou superar o privado. Estão de certa forma fazendo um escola sem partido à força, descendo goela abaixo, por decreto, já que parece que este tipo de coisa não passaria como lei.
    Esse governo parece que anda na contramão em tudo, reforma da previdência pra economizar 50 bilhões ao ano, reforma trabalista pra precarizar ainda mais o trabalho, enquanto os bancos e o sistema financeiro nacional e internacional consomem 400 bilhões com seus juros ao ano, a corrupção se estima que consuma mais 200 bilhões ao ano, enquanto se (por um leve exemplo) der um abono mensal de R$ 1.000,00 para todos os professores de escolas públicas do país isso custaria somente 22 bilhões ao ano, estão desperdiçando o que temos de mais valioso que são os brasileiros, os alunos tem sede de aprendizado de qualidade, e somente com uma educação básica de qualidade teríamos aí sim um importante aporte para o presente e o futuro do país. Estamos na mão de entreguistas, tentemos ser nacionalistas. É preciso conscientizar e principalmente votar num congresso e num presidente com este tipo de foco ano que vem, para derrubar esse descalabro que estão fazendo com o país, a mobilização deve caminhar também nesse sentido.

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